Palco da final do Mundial, o Maracanã é o campeão da Copa da propina. De acordo com relatos feitos pelo ex-presidente da Construtora Odebrecht, Benedito Barbosa Junior, ao Ministério Público Federal, só o ex-governador do Rio Sergio Cabral recebeu R$ 6,3 milhões em pagamentos ilegais relacionados às obras. Procurada, a defesa de Cabral, preso desde novembro em Bangu acusado de vários crimes, disse que “a nossa manifestação está sendo somente nos autos do processo penal’’.
Outra acusação atinge o presidente do Tribunal de Contas do Estado do Rio, Jonas Lopes. Segundo o ex-diretor da Odebrecht Leandro Azevedo, Lopes teria recebido R$ 1 milhão em fevereiro de 2014 para aprovar o edital de concessão do Maracanã. O acordo seria de R$ 4 milhões, mas as outras três parcelas não foram pagas porque estourou a Lava Jato. Ao Estado, a defesa de Lopes e de seu filho, Jonas Lopes de Carvalho Neto (a quem o repasse teria sido entregue), disse que ambos “celebraram acordo de cooperação junto ao Ministério Público Federal e, sob os termos desse acordo e suas nuances, estão legalmente impedidos de realizar quaisquer comentários’’.
Dois ex-governadores do Amazonas, atuais senadores, Eduardo Braga (PMDB) e Omar Aziz (PSD) foram acusados de recebimento de propinas por dois ex-executivos da Andrade Gutierrez. Clóvis Primo e Rogério Nora de Sá disseram que a Braga foram destinados 10% do valor da obra (saiu por R$ 660,5 milhões) e a Aziz, 5%.
Ambos negaram, por meio de nota. “A delação é mentirosa. Esclareço mais uma vez que não participei da gestão de nenhum obra para a Copa de 2014. Sai do governo do Estado em março de 2010’’, afirmou Braga. Aziz garantiu que resistiu a pressão da AG por aditivos na obra da arena e que o governo “seguiu rigorosamente os valores orientados pelos órgãos de controle e fiscalização’’. “Ninguém tem mais interesse do que eu na conclusão deste inquérito.’’
Outro senador, Agripino Maia (DEM-RN), teve inquérito para investigá-lo autorizado pelo ministro Luis Roberto Barroso, do STF (Supremo Tribunal Federal), por suspeita de ter recebido propina para ajudar na liberação de recursos do BNDES para a Arena das Dunas, em Natal. Maia, presidente do Democratas, rebate: “Tenho certeza de que as investigações vão terminar pela conclusão óbvia: que força teria eu, líder da oposição na época, para liberar dinheiro do BNDES, cidadela impenetrável do PT?’’
As construtoras reiteram que estão colaborando com a Justiça para o esclarecimento dos fatos. “A Odebrecht já reconheceu seus erros, pediu desculpas públicas, assinou acordos de leniência… e está comprometida a combater e a não tolerar a corrupção’’, pontuou a Odebrecht, por meio de nota. “A Andrade Gutierrez informa que segue colaborando com as investigações e reforça seu compromisso público de esclarecer e corrigir todos os fatos irregulares ocorridos no passado.’’/COLABOROU MARCIO DOLZAN
TRÊS PERGUNTAS PARA GIL CASTELO BRANCO, SECRETÁRIO GERAL DA ONG CONTAS ABERTAS
1. Qual o nível de surpresa em relação à corrupção ligada aos estádios da Copa?
Era até previsível, num país com a tradição de corrupção em obras públicas como o Brasil. A surpresa foi termos descoberto que isso acontecia de forma sistematizada, com um cartel extremamente organizado. Minha sensação é que onde se for pesquisar, em obras públicas, vai se encontrar irregularidade
2. Acredita ser possível recuperar parte desse dinheiro?
Nós fomos enganados diversas vezes. Desde o anúncio da Copa em que se dizia para a sociedade que as obras seriam realizadas em sua maior parte com recursos privados. E não havia necessidade que tivéssemos tantas sedes. Isso ampliado por interesses políticos, o que gerou diversos elefantes brancos. Nesse sentido esse dinheiro é irrecuperável porque em vez de se aplicar em áreas mais importantes, saúde, educação, segurança pública, se aplicou na construção de equipamentos públicos praticamente inúteis.
3. Também houve falha no controle desses gastos…
Ficou revelada a absoluta falência dos sistemas de controle, porque nós tínhamos tribunais de contas dos Estados, em alguns casos de município, como no Rio de janeiro, controles internos dentro do executivo. Inúmeras outras entidades de controle, como a CVM para empresas que tinham ações no mercado, o TCU. Ninguém foi capaz de detectar a tempo essas irregularidades, essa corrupção deslavada.
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