José Laurentino
Tem
certas coisas seu moço
que
eu não gosto muito não
por
exemplo
ouvir
contar história de operação
de
arracamento de dente
ouvir
história de briga
eu
posso inté escuitá
mas
me dá uma fadiga
e
outra coisa seu moço
que
de bom gosto eu não faço
é dá
esmola a quem pede
com
um santo debaixo do braço
porque
eu acho que o santo
não
tem muita precisão
afinal
eu nunca vi
santo
comer feijão
Mas
pro mal dos meus pecado
ou
pro minha pouca fé
tudo
dia lá em casa
passa
um veinho andano a pé
pro
sinal muito feliz
cantarolando
e tal
chega
na minha porta
bate
palma e diz:
"esmola
pra São José"
O
diabo da muié
que
é muito curvitera
eu
nunca vi uma muié
que
não fosse rezadêra
adquere
um tanto quanto
corre
e vai dá lá pro Santo
que
dizê, pro santo
pro
veio fazê a fera
De
manhã logo cedinho
eu
vou tomá meu café
quando
dô fé ó o grito:
“esmola
pra São José”
ôooo
mais isso foi me enchendo
o
saco
mas
me enchendo por demais
Um
dia cheguei em casa
com
a braguia da carça virada
pa
trás
sentei
num toco de pau
tumei
uma de rapé
quando
de repente ouvi o grito:
“esmola
pra São José”
pra
mode de dá a esmola
a
muié se arremecheu
eu
fui e gritei: num vai não
dêxa
hoje
quem vai dá esmola sou eu
Quando
eu cheguei na porta
o
velho teve um espanto
eu
fui e disse:
vai
trabaiá ...
vagabundo
...
que
eu num dô esmola pra santo
troque
o santo por uma enxada
deixa
de ser preguiçoso
santo
num carece de esmola, rapaz
deixa
de ser mentiroso ..
o
veio me olhô ...
e me
disse:
que
São José te perdoe
e se
Deus tive te ouvino
que
ele te abençoe
e
que cubra tua casa de Paz, Amor,
União,
Sossego, Proesperidade,
Conforto
e Compreensão
e se
um dia o sinhô pricisá
desse
veinho
ele
não mora tão perto não
mora
no sítio Cauã
onde
já viveu meu pai
à
direita de quem vem
à
esquerda de quem vai
e se
um dia o sinhô passá
por
ali com pricisão
de
fome o sinhô num morre
tombem
num drome no chão
Quando
o veio disse aquilo
eu
senti naquele instante
como
seu eu fosse uma ...
uma
frumiga
sob
os pé de dum elefante
fiquei
com as perna tudo tremeno
digo
e num peço segredo
óia,
aquele veio me deu ma surra
sem
me tocá com um dedo
Eu
com tanta ignorança
ele
tanta mansidão
fez
eu pagá muito caro
minha
farta de compreensão
Então
naquele momento
eu
gritei pra Salomé
mandei
trazê pro veinho
um
boa xícara de café
e
fui correndo contá meu dinheiro
tinha
somento um cruzêro ..
dei
tudinho a São José
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