sexta-feira, 12 de maio de 2017

Posturas, gestos e expressões: veja o que indica a linguagem corporal de Lula, em nove atos, em depoimento a Moro

O ex-presidente Lula titubeou e mostrou sinais de desconforto, raiva, ansiedade e enfrentamento durante o interrogatório de quarta-feira ao juiz Sergio Moro, apontam especialistas em linguagem corporal que analisaram o vídeo da íntegra do interrogatório a pedido GLOBO. Segundo eles, pela postura, gestos, expressões e até as roupas usadas por Lula é possível inferir suas emoções, embora ressaltem que nesta situação não é possível afirmar o porquê de o ex-presidente estar se sentindo daquele jeito.

— São visíveis durante o interrogatório os sinais de tensão, na face, nas mãos e no corpo de Lula, o que é natural em qualquer interrogatório — avalia o professor Paulo Sergio de Camargo.
Já Wandy Casalecchi, fundador e presidente da Sociedade Brasileira de Leitura Corporal, destaca que a postura de enfrentamento de Lula para o depoimento começou já na sua escolha de figurino. De acordo com ele, a gravata grossa, se estendendo abaixo do cinto e com listras coloridas gerava um grande contraste no centro do tronco e chamava demasiada atenção.
Casalecchi, no entanto, é mais comedido ao apontar o que chama de “incongruências” entre as declarações e a linguagem corporal de Lula, evitando usar a palavra “mentira”.
— As interpretações são diversas para estes tipos de eventos e ratificamos que apenas apontamos as incongruências entre o ato em si/palavras e os sinais não verbais. Qualquer conclusão sem uma investigação das incongruências é mera especulação — explica Casalecchi.
Os gestos de Lula no depoimento a Moro
Irritação
Quando Moro apresenta os termos do processo, acusando-o de participar de um esquema de corrupção, Lula inicia sutil movimento de cutucar o dedo médio com o polegar, num sinal de agressividade e raiva, diz Casalecchi: “sua face mostra austeridade natural ao momento, mas seus dedos deixam clara sua revolta por estar ali naquelas condições”.
Desconforto
Iniciado o depoimento, Moro fala sobre o tríplex. Lula se mexe na cadeira, tenta se ajustar, arruma o terno e ajeita a gravata, indicações de estresse e desconforto com a questão, diz Camargo. Em seguida, vira a cabeça para a esquerda e olha de “canto de olho” para Moro. “Está desconfiado das intenções do juiz ao realizar esta pergunta”, diz.
Contradição
Ao dizer que quando chegar no processo do sítio de Atibaia vai responder tudo com prazer, a boca de Lula diz sim, mas a cabeça balança negativamente. Mais à frente, perguntado se sabia do envolvimento da OAS com a reforma do sítio, ele se vira e toca o nariz. “São gestos clássicos de mentira em linguagem corporal”, aponta Camargo.
Enfrentamento
Quando Lula sugere que haja uma conspiração contra ele, ele o faz com flagrante elevação do queixo, sinal de enfrentamento. Além disso, utiliza muito os indicadores como sinal de acusação bélica e ataque, e os polegares para baixo, sugerindo imposição de ideias de forma ostensiva. “Ele está sinalizando: ‘Isso eu quero discutir’, afirma Casalecchi.
Inconsistência
De volta ao interrogatório envolvendo documentos relativos ao apartamento do Guarujá e datas, Lula junta as mãos como se estivesse rezando ao afirmar que só ouviu voltar falar do imóvel em 2013. “É uma falsa reza. Ele quer convencer o outro, mas não tem argumentos consistentes”, diz Camargo.
No grito
Indagado se teria desistido de comprar o tríplex do Guarujá por Léo Pinheiro ter sido preso e a imprensa descoberto o imóvel, Lula reage com agressividade e acusa o MP de ser “prisioneiro” da imprensa, com os dois dedos à frente. “Quem aponta com os dois dedos indica que os argumentos se perderam, quer ganhar no ‘grito’”, analisa Camargo.
Ansiedade
Em seguida, Moro menciona matéria do GLOBO de 2010 que diz que Lula iria com a família para o tríplex do Guarujá após deixar a Presidência. Ele coloca a mão na cabeça e coça, fecha os olhos e vai procurar algo na mesa, demonstrando alto nível de ansiedade, irritação, desânimo. “É como se ele dissesse: o GLOBO de novo…”, avalia Camargo.
Emoção
Quando Moro interroga se sabia do esquema na Petrobras, Lula reage com movimento contido de murro: agressividade. A expressão traz sobrancelhas para o centro e para baixo: raiva. Porém, alisa o bigode para controlar emoções e expressão. Muda para uma de profunda tristeza. “Foi uma rara emoção que só aflorou neste momento”, diz Casalecchi.
Incerteza
Indagado pelos procuradores se visitou o apartamento 141 do edifício Solaris, além do tríplex, Lula gagueja, diz que não sabe e faz movimentos arrítmicos com a mão esquerda. “Isso tende a ocorrer quando há conflito entre verbal e não verbal, sugerindo incerteza”, explica Casalecchi. Logo depois, Lula coloca a mão na testa: sinal de constrangimento.
O Globo

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