O ex-presidente Lula titubeou e mostrou sinais de desconforto, raiva, ansiedade e enfrentamento durante o interrogatório de quarta-feira ao juiz Sergio Moro, apontam especialistas em linguagem corporal que analisaram o vídeo da íntegra do interrogatório a pedido GLOBO. Segundo eles, pela postura, gestos, expressões e até as roupas usadas por Lula é possível inferir suas emoções, embora ressaltem que nesta situação não é possível afirmar o porquê de o ex-presidente estar se sentindo daquele jeito.
—
São visíveis durante o interrogatório os sinais de tensão, na face, nas mãos e
no corpo de Lula, o que é natural em qualquer interrogatório — avalia o
professor Paulo Sergio de Camargo.
Já
Wandy Casalecchi, fundador e presidente da Sociedade Brasileira de Leitura
Corporal, destaca que a postura de enfrentamento de Lula para o depoimento
começou já na sua escolha de figurino. De acordo com ele, a gravata grossa, se estendendo
abaixo do cinto e com listras coloridas gerava um grande contraste no centro do
tronco e chamava demasiada atenção.
Casalecchi,
no entanto, é mais comedido ao apontar o que chama de “incongruências” entre as
declarações e a linguagem corporal de Lula, evitando usar a palavra “mentira”.
— As
interpretações são diversas para estes tipos de eventos e ratificamos que
apenas apontamos as incongruências entre o ato em si/palavras e os sinais não
verbais. Qualquer conclusão sem uma investigação das incongruências é mera
especulação — explica Casalecchi.
Os
gestos de Lula no depoimento a Moro
Irritação
Quando
Moro apresenta os termos do processo, acusando-o de participar de um esquema de
corrupção, Lula inicia sutil movimento de cutucar o dedo médio com o polegar,
num sinal de agressividade e raiva, diz Casalecchi: “sua face mostra
austeridade natural ao momento, mas seus dedos deixam clara sua revolta por
estar ali naquelas condições”.
Desconforto
Iniciado
o depoimento, Moro fala sobre o tríplex. Lula se mexe na cadeira, tenta se
ajustar, arruma o terno e ajeita a gravata, indicações de estresse e
desconforto com a questão, diz Camargo. Em seguida, vira a cabeça para a
esquerda e olha de “canto de olho” para Moro. “Está desconfiado das intenções
do juiz ao realizar esta pergunta”, diz.
Contradição
Ao
dizer que quando chegar no processo do sítio de Atibaia vai responder tudo com
prazer, a boca de Lula diz sim, mas a cabeça balança negativamente. Mais à
frente, perguntado se sabia do envolvimento da OAS com a reforma do sítio, ele
se vira e toca o nariz. “São gestos clássicos de mentira em linguagem
corporal”, aponta Camargo.
Enfrentamento
Quando
Lula sugere que haja uma conspiração contra ele, ele o faz com flagrante
elevação do queixo, sinal de enfrentamento. Além disso, utiliza muito os
indicadores como sinal de acusação bélica e ataque, e os polegares para baixo,
sugerindo imposição de ideias de forma ostensiva. “Ele está sinalizando: ‘Isso
eu quero discutir’, afirma Casalecchi.
Inconsistência
De
volta ao interrogatório envolvendo documentos relativos ao apartamento do
Guarujá e datas, Lula junta as mãos como se estivesse rezando ao afirmar que só
ouviu voltar falar do imóvel em 2013. “É uma falsa reza. Ele quer convencer o
outro, mas não tem argumentos consistentes”, diz Camargo.
No
grito
Indagado
se teria desistido de comprar o tríplex do Guarujá por Léo Pinheiro ter sido
preso e a imprensa descoberto o imóvel, Lula reage com agressividade e acusa o
MP de ser “prisioneiro” da imprensa, com os dois dedos à frente. “Quem aponta
com os dois dedos indica que os argumentos se perderam, quer ganhar no
‘grito’”, analisa Camargo.
Ansiedade
Em
seguida, Moro menciona matéria do GLOBO de 2010 que diz que Lula iria com a
família para o tríplex do Guarujá após deixar a Presidência. Ele coloca a mão
na cabeça e coça, fecha os olhos e vai procurar algo na mesa, demonstrando alto
nível de ansiedade, irritação, desânimo. “É como se ele dissesse: o GLOBO de
novo…”, avalia Camargo.
Emoção
Quando
Moro interroga se sabia do esquema na Petrobras, Lula reage com movimento
contido de murro: agressividade. A expressão traz sobrancelhas para o centro e
para baixo: raiva. Porém, alisa o bigode para controlar emoções e expressão.
Muda para uma de profunda tristeza. “Foi uma rara emoção que só aflorou neste
momento”, diz Casalecchi.
Incerteza
Indagado
pelos procuradores se visitou o apartamento 141 do edifício Solaris, além do
tríplex, Lula gagueja, diz que não sabe e faz movimentos arrítmicos com a mão
esquerda. “Isso tende a ocorrer quando há conflito entre verbal e não verbal,
sugerindo incerteza”, explica Casalecchi. Logo depois, Lula coloca a mão na
testa: sinal de constrangimento.
O
Globo
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