Um dos divertimentos dos meninos de ontem era gostar de passarinhos. De gaiolas presos ou ao ar livre. Guardamos algumas lembranças da quantidade de aves que povoaram nossa meninice em Pedro Avelino, região dotada pela natureza de lindas aves que abrigava quase todas as espécies conhecidas no sertão nordestino. Quem não lembra dos patos voando em formação: um na frente como líder e os outros seguindo-o formando uma asa delta. Recordamos as revoadas das avoantes ou arribaçãns, que no 'inverno' de cada ano surgiam no céu em grande quantidade. Não sabíamos para onde voltavam depois de tão curto período. Faziam seus ninhos no chão para desovar, criar e proteger os filhotes, devido aos espinhos da caatinga que serviam como proteção. Vimos seriemas que durante o dia nos descampados procuravam insetos para sua alimentação.
Existiam muitos canários amarelos, próximo ao campo do Flamengo, de briga e de canto; outros pássaros como pintassilgos, papa sebos, pica paus, rolinhas, eram encontrados com frequência nas fazendas e nos sítios. Desapareceram e se ainda existir estão pertos dos caçadores inescrupulosos. O canto mavioso e repetitivo de alguns pássaros parece um lamento como premonição do que vem ocorrendo para a lenta e inexorável extinção. Nambu ave de voos curtos e em linha reta. O anu-preto vem bravamente suportando as mudanças climáticas para se manter vivo. Rasga-mortalha, poucos sertanejos viram essa ave por ter hábitos noturnos. Voa rente aos telhados das casas da cidade procurando pequenos roedores, seu alimento preferido. Em intervalos curtos emite grunhidos que parecem pano forte sendo rasgado. Daí o nome popular. Tem quem acredite que se ela sobrevoar determinada casa, com insistência, uma pessoa daquela família não vai durar muito tempo neste vale de lágrimas.
Com gratas recordações não se transformem em saudades. Que os meninos e meninas do nosso torrão não enterrem suas alegrias na incompetência coletiva dos poderes constituídos. Com alegria compensatória podemos destacar outras aves que estão resistindo às instabilidades do meio ambiente, aos agrotóxicos, aos caçadores e a ganância, além do desmatamento. Ainda paira no ar o gavião. É proeza digna de ser visto e aplaudido. Urubu, o velho agente funerário, o melhor planador que temos no ar. É, ao mesmo tempo, admirado e asqueroso para muitas pessoas. O urubu-rei é vistoso. Quando chega ao banquete nenhum outro ousa ficar perto. Saciado levanta voo e deixa os restos para quem esperou. O galo de campina continua lindo e resistindo à destruição da natureza, com o seu canto pedindo para que não seja extinto. Algumas aves que desapareceram do nosso sertão: golinha, bigode, concriz e outras que eu não me lembro agora.
Os séculos nos legaram uma diversidade de espécies, que ao longo dos anos vêm se dizimando. Proteger as aves que ainda não foram caçadas, aprisionadas, contrabandeadas não é trabalho para uma geração. A verdade é uma só em qualquer lugar. É uma tristeza.
Assim sendo, resta apelar para os detentores dos poderes constituídos, em nome do meio ambiente, medidas de baixo custo, porém eficazes como difundir nas escolas públicas do nosso município a necessidade da preservação das aves que sempre nos brindaram com seus cantos e seus livres voos. Que se respeite o meio ambiente para salvar o que resta.
Marcos Calaça, jornalista (UFRN
Blog DO GALINHO
Existiam muitos canários amarelos, próximo ao campo do Flamengo, de briga e de canto; outros pássaros como pintassilgos, papa sebos, pica paus, rolinhas, eram encontrados com frequência nas fazendas e nos sítios. Desapareceram e se ainda existir estão pertos dos caçadores inescrupulosos. O canto mavioso e repetitivo de alguns pássaros parece um lamento como premonição do que vem ocorrendo para a lenta e inexorável extinção. Nambu ave de voos curtos e em linha reta. O anu-preto vem bravamente suportando as mudanças climáticas para se manter vivo. Rasga-mortalha, poucos sertanejos viram essa ave por ter hábitos noturnos. Voa rente aos telhados das casas da cidade procurando pequenos roedores, seu alimento preferido. Em intervalos curtos emite grunhidos que parecem pano forte sendo rasgado. Daí o nome popular. Tem quem acredite que se ela sobrevoar determinada casa, com insistência, uma pessoa daquela família não vai durar muito tempo neste vale de lágrimas.
Com gratas recordações não se transformem em saudades. Que os meninos e meninas do nosso torrão não enterrem suas alegrias na incompetência coletiva dos poderes constituídos. Com alegria compensatória podemos destacar outras aves que estão resistindo às instabilidades do meio ambiente, aos agrotóxicos, aos caçadores e a ganância, além do desmatamento. Ainda paira no ar o gavião. É proeza digna de ser visto e aplaudido. Urubu, o velho agente funerário, o melhor planador que temos no ar. É, ao mesmo tempo, admirado e asqueroso para muitas pessoas. O urubu-rei é vistoso. Quando chega ao banquete nenhum outro ousa ficar perto. Saciado levanta voo e deixa os restos para quem esperou. O galo de campina continua lindo e resistindo à destruição da natureza, com o seu canto pedindo para que não seja extinto. Algumas aves que desapareceram do nosso sertão: golinha, bigode, concriz e outras que eu não me lembro agora.
Os séculos nos legaram uma diversidade de espécies, que ao longo dos anos vêm se dizimando. Proteger as aves que ainda não foram caçadas, aprisionadas, contrabandeadas não é trabalho para uma geração. A verdade é uma só em qualquer lugar. É uma tristeza.
Assim sendo, resta apelar para os detentores dos poderes constituídos, em nome do meio ambiente, medidas de baixo custo, porém eficazes como difundir nas escolas públicas do nosso município a necessidade da preservação das aves que sempre nos brindaram com seus cantos e seus livres voos. Que se respeite o meio ambiente para salvar o que resta.
Marcos Calaça, jornalista (UFRN
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