sexta-feira, 24 de fevereiro de 2012

Caern utiliza 100% do esgoto tratado em Pendências como fertilizante para capim

Caern utiliza 100% do esgoto tratado em Pendências como fertilizante para capim
Por Assessoria de Imprensa Caern
Cem por cento dos esgotos coletados na cidade de Pendências, pela Companhia de Águas e Esgotos do Rio Grande do Norte (Caern), estão sendo utilizados em uma ação pioneira de reuso de esgoto tratado. A experiência serve como base para o plantio de capim numa área que no total terá 15 hectares destinados para esta cultura, vizinha à Estação de Tratamento de Esgotos (ETE) local. A informação é do pesquisador e engenheiro da Caern, Marco Calazans, que na última sexta-feira (16) apresentou painel no I Workshop Projeto Caatinga Viva : Biomassa como Alternativa Energética para o Brasil e o Rio Grande do Norte, realizado no Instituto Federal de Educação, Ciência e Tecnologia (IFRN), no Tirol. Calazans falou sobre "Tratamento e Reuso de Águas Residuárias Domésticas". Ele ressalta que neste verdadeiro campo de testes em larga escala a céu aberto, a Caern aceitou o desafio de demonstrar que esgoto pode virar energia. A primeira colheita deve ocorrer em fevereiro de 2012.
A experiência integra o programa Caatinga Viva, patrocinado pelo programa Petrobras Ambiental, da estatal petrolífera brasileira, e reunindo instituições como a Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária (Embrapa), organização não governamental Carnaúba Viva, IFRN, Associação Norte-Riograndense de Engenheiros Agrônomos (ANEA) e a Caern. "A Companhia está realizando uma ação de baixo custo com potencial para gerar grandes resultados para à preservação ambiental e a economia da região do Vale do Açu", salienta o engenheiro, coordenador e representante da empresa estadual de saneamento nessa experiência. Na plateia, estavam estudantes dos Institutos Federais de Educação, Ciência e Tecnologia dos Estados das regiões Norte e Nordeste.
O capim colhido em Pendências vai servir de matéria prima para a produção de briquete - tipo de lenha ecológica feita a partir dessa vegetação e de restos de podas de carnaúba, entre outros insumos - como é mais conhecida a lenha ecológica, prensada nas fábricas de beneficiamento. E vai virar combustível para indústrias cerâmicas do Vale, a partir da fábrica que está sendo construída em Ipanguaçu. O reuso de esgotos dispensa o uso de fertilizantes, pois o efluente sai da ETE com nitrogênio, fósforo e potássio, elementos químicos ricos em nutrientes para o solo. Tudo está a mão, água disponível, redução de gasto com energia, e possibilidade de entre cinco e seis meses poder colher o capim, no ponto ideal para virar lenha ecologicamente correta. O projeto pode ainda deter a devastação da caatinga, que já perdeu 50% de sua cobertura no Rio Grande do Norte.

POTENCIAL

A experiência, iniciada em fevereiro, deve prosseguir até o começo de 2013 e pode crescer. Calazans enxerga perspectivas para o reuso de esgotos chegar a municípios como Carnaubais, Afonso Bezerra e São Rafael, onde a Caern também possui estações de tratamento. "Pessoas de outras regiões do Estado, como a do Seridó, já nos pedem informações mais detalhadas sobre o reuso", acrescenta o pesquisador da Caern. Em Pendências, são utilizados 860 mil litros de esgoto tratado por dia nos 10 hectares, utilizados atualmente pelo projeto. Em média com 1 litro/segundo dá para se irrigar 1 hectare. "Ações nesses moldes são realizadas, há um bom tempo, em Israel, Austrália e no estado americano da Califórnia, além de São Paulo e Ceará, como exemplos brasileiros", aponta o engenheiro da Caern.
Para ele, o briquete vai se consolidar como opção não só para as cerâmicas existentes no Vale do Açu, mas  também segmentos como pizzarias e padarias, entre outros. Calazans lembra que atualmente, as empresas estão indo buscar lenha a 200 quilômetros de distância, o que encarece os custos. Com o capim irrigado com reuso de esgotos tratados em Pendências, será possível suprir 25% da demanda por lenha ecológica na região. "É preciso acabar com o preconceito contra o reuso, pois se trata de uma nova atividade econômica, que economiza água potável", observa. "No mundo, 75% da água doce é usada em irrigação, já pensou se o ser humano conseguir fazer o reuso neste segmento, liberando mais água potável para as populações de regiões de clima semi-árido, por exemplo?", reflete Marco Calazans.

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