Tribuna do Norte
Yuno Silva - repórter
Violinista e entusiasta da música erudita, argentino de nascença e potiguar de coração com título de cidadão, concedido pela Assembleia Legislativa, o maestro D'Amore faleceu na manhã desta quinta-feira, aos 61 anos, após lutar por mais de um ano contra um linfoma (câncer no sistema circulatório). Velado durante a tarde de ontem no Centro de Velório São José por familiares, amigos e admiradores, o corpo do instrumentista seguiu para o Recife no início da noite onde foi cremado. Oswaldo deixa esposa, filho e neta. Em entrevista à TRIBUNA DO NORTE, em outubro de 2010, Oswaldo acabara de retomar uma atividade deixada há trinta anos: o engajamento social com o projeto "Tocando a Vida", da ONG Atitude Cooperação, apoiada pela Unimed onde ensinava música para crianças.
"A corrente era grande para sua recuperação, inclusive na Argentina", disse emocionado Ticiano D'Amore durante o velório. Ele lembrou que o pai chegou a se preparar para um auto-transplante de medula: "No início de novembro fizemos campanha para doação de sangue, mas quando iria se submeter ao procedimento estava com a saúde debilitada e poderia não resistir. Felizmente deu tempo de ser um avô coruja." Laís, neta de Oswaldo D'Amore tem três meses e nasceu no mesmo dia que o maestro: 25 de outubro. "Um presentão pra toda família", emenda.
Também músico (guitarrista da banda Macaxeira Jazz) e professor universitário da Escola de Música da UFRN assim como os pais - Oswaldo e a pianista Dolores Portela -, Ticiano contou que a maior lição que aprendeu com o pai em termos profissionais "foi a integridade. Sempre que apresentava uma nova ideia ou um novo projeto a primeira pergunta que fazia era: 'vai prejudicar ou está prejudicando alguém? Se não, então tudo bem. Era um conselheiro", recorda. Pai e filho chegaram a se apresentar juntos no Duo D'Amore.
ORQUESTRA
Considerado o grande responsável pela estruturação da Orquestra Sinfônica do Rio Grande do Norte, cuja trajetória pode ser dividida em dois momentos distintos: antes e depois de Oswaldo D'Amore, o maestro assumiu a OSRN em 1987 e esteve à frente do grupo por quase 20 anos. Durante essas duas décadas, o quadro de profissionais saltou de 12 para 65 músicos. "Trabalhei todo esse período com ele e posso garantir que a OSRN se fortaleceu muito. Oswaldo era uma pessoa extremamente séria, determinada, e teve um papel muito importante para colocar a Orquestra de pé e fazê-la caminhar", disse a violinista Tiquinha Rodrigues.
Tiquinha lembra que antes de D'Amore assumir a OSRN os músicos eram contratados como professores. "Foi ele quem batalhou pela profissionalização como musicista. O momento é delicado, temos que emanar boas vibrações."
O contrabaixista Paulo Sarkis, membro da Orquestra desde 1988 e atual presidente do Sindicato dos Músicos do RN, reforça: "Foi a pessoa mais importante que eu vi atuar na OSRN. Trouxe experiência para o naipe de cordas." Sarkis disse que o mais importante para Oswaldo não era o repertório e sim a própria existência da OSRN. "Foi um líder que saiu de maneira injusta, sem homenagem."
Na época de sua saída, em 2007, Oswaldo sabia que havia cumprido sua missão: "Agradeço aos que confiaram no meu trabalho, principalmente porque dei o melhor de mim." Ele sabia que sua forma austera de conduzir a Orquestra não era unanimidade. "Fiz amigos e inimigos na orquestra durante esses 20 anos. Mas acho que fiz mais amigos", declarou na ocasião. Entre os destaques do período que foi maestro estão a interiorização da música erudita e a realização de concertos populares ao lado de nomes consagrados da MPB como Sivuca e Moraes Moreira.
QUARTETO E ACAMPAMENTO
Um dos criadores do Quarteto de Cordas da UFRN em 1984, ao lado dos parceiros-uruguaios Miguel Szilagyi (violoncelista falecido hpa cerca de cinco anos), Ricardo Cracium (violinista e spalla da OSRN) e Ricardo Miguel Kolodiuk (viola), Oswaldo D'Amore chegou em Natal em 1979, após breve passagem por João Pessoa - o violinista chegou ao Brasil fugindo da repressão da ditadura Militar na Argentina.
O Quarteto de Cordas deixou sua história escrita no cenário musical natalense: lançou disco em 1993, um dos primeiros CDs produzidos em Natal, influenciou toda uma geração de músicos e buscou conferir maior qualificação aos instrumentistas de cordas. "Não tenho dúvidas de que abrimos várias frentes para a música erudita, inclusive de trabalho. D'Amore foi um artista diversificado, pioneiro", disse o amigo e parceiro Ricardo Miguel Kolodiuk.
Ricardo Crasium lembra da experiência do amigo: "Conheci D'Amore há mais de trinta anos, sempre trabalhamos juntos, e lembro quando chegou a Natal trazendo a experiência internacional adquirida em um polo tradicional como Buenos Ayres. Acompanhei toda a reestruturação da OSRN, antes dele assumir como maestro era um conjunto muito simples".
Em matéria publicada na TN, em agosto de 1994, pouco antes de receber o título de Cidadão Norte-Riograndense, o maestro contou como conheceu a capital potiguar: "Em 1977 vim acampar na praia de Cotovelo, e quando avistei Ponta Negra prometi que ainda viria morar aqui. Se não me botarem para fora, vou morrer aqui."
Yuno Silva - repórter
Violinista e entusiasta da música erudita, argentino de nascença e potiguar de coração com título de cidadão, concedido pela Assembleia Legislativa, o maestro D'Amore faleceu na manhã desta quinta-feira, aos 61 anos, após lutar por mais de um ano contra um linfoma (câncer no sistema circulatório). Velado durante a tarde de ontem no Centro de Velório São José por familiares, amigos e admiradores, o corpo do instrumentista seguiu para o Recife no início da noite onde foi cremado. Oswaldo deixa esposa, filho e neta. Em entrevista à TRIBUNA DO NORTE, em outubro de 2010, Oswaldo acabara de retomar uma atividade deixada há trinta anos: o engajamento social com o projeto "Tocando a Vida", da ONG Atitude Cooperação, apoiada pela Unimed onde ensinava música para crianças.
Ricardo JunqueiraO mais potiguar dos artistas argentinos, o maestro e violonista Oswaldo D'Amore, ex-regente da Orquestra Sinfônica do RN, morre aos 61 anos, após lutar durante mais de um ano contra um linfoma.
"A corrente era grande para sua recuperação, inclusive na Argentina", disse emocionado Ticiano D'Amore durante o velório. Ele lembrou que o pai chegou a se preparar para um auto-transplante de medula: "No início de novembro fizemos campanha para doação de sangue, mas quando iria se submeter ao procedimento estava com a saúde debilitada e poderia não resistir. Felizmente deu tempo de ser um avô coruja." Laís, neta de Oswaldo D'Amore tem três meses e nasceu no mesmo dia que o maestro: 25 de outubro. "Um presentão pra toda família", emenda.
Também músico (guitarrista da banda Macaxeira Jazz) e professor universitário da Escola de Música da UFRN assim como os pais - Oswaldo e a pianista Dolores Portela -, Ticiano contou que a maior lição que aprendeu com o pai em termos profissionais "foi a integridade. Sempre que apresentava uma nova ideia ou um novo projeto a primeira pergunta que fazia era: 'vai prejudicar ou está prejudicando alguém? Se não, então tudo bem. Era um conselheiro", recorda. Pai e filho chegaram a se apresentar juntos no Duo D'Amore.
ORQUESTRA
Considerado o grande responsável pela estruturação da Orquestra Sinfônica do Rio Grande do Norte, cuja trajetória pode ser dividida em dois momentos distintos: antes e depois de Oswaldo D'Amore, o maestro assumiu a OSRN em 1987 e esteve à frente do grupo por quase 20 anos. Durante essas duas décadas, o quadro de profissionais saltou de 12 para 65 músicos. "Trabalhei todo esse período com ele e posso garantir que a OSRN se fortaleceu muito. Oswaldo era uma pessoa extremamente séria, determinada, e teve um papel muito importante para colocar a Orquestra de pé e fazê-la caminhar", disse a violinista Tiquinha Rodrigues.
Tiquinha lembra que antes de D'Amore assumir a OSRN os músicos eram contratados como professores. "Foi ele quem batalhou pela profissionalização como musicista. O momento é delicado, temos que emanar boas vibrações."
O contrabaixista Paulo Sarkis, membro da Orquestra desde 1988 e atual presidente do Sindicato dos Músicos do RN, reforça: "Foi a pessoa mais importante que eu vi atuar na OSRN. Trouxe experiência para o naipe de cordas." Sarkis disse que o mais importante para Oswaldo não era o repertório e sim a própria existência da OSRN. "Foi um líder que saiu de maneira injusta, sem homenagem."
Na época de sua saída, em 2007, Oswaldo sabia que havia cumprido sua missão: "Agradeço aos que confiaram no meu trabalho, principalmente porque dei o melhor de mim." Ele sabia que sua forma austera de conduzir a Orquestra não era unanimidade. "Fiz amigos e inimigos na orquestra durante esses 20 anos. Mas acho que fiz mais amigos", declarou na ocasião. Entre os destaques do período que foi maestro estão a interiorização da música erudita e a realização de concertos populares ao lado de nomes consagrados da MPB como Sivuca e Moraes Moreira.
QUARTETO E ACAMPAMENTO
Um dos criadores do Quarteto de Cordas da UFRN em 1984, ao lado dos parceiros-uruguaios Miguel Szilagyi (violoncelista falecido hpa cerca de cinco anos), Ricardo Cracium (violinista e spalla da OSRN) e Ricardo Miguel Kolodiuk (viola), Oswaldo D'Amore chegou em Natal em 1979, após breve passagem por João Pessoa - o violinista chegou ao Brasil fugindo da repressão da ditadura Militar na Argentina.
O Quarteto de Cordas deixou sua história escrita no cenário musical natalense: lançou disco em 1993, um dos primeiros CDs produzidos em Natal, influenciou toda uma geração de músicos e buscou conferir maior qualificação aos instrumentistas de cordas. "Não tenho dúvidas de que abrimos várias frentes para a música erudita, inclusive de trabalho. D'Amore foi um artista diversificado, pioneiro", disse o amigo e parceiro Ricardo Miguel Kolodiuk.
Ricardo Crasium lembra da experiência do amigo: "Conheci D'Amore há mais de trinta anos, sempre trabalhamos juntos, e lembro quando chegou a Natal trazendo a experiência internacional adquirida em um polo tradicional como Buenos Ayres. Acompanhei toda a reestruturação da OSRN, antes dele assumir como maestro era um conjunto muito simples".
Em matéria publicada na TN, em agosto de 1994, pouco antes de receber o título de Cidadão Norte-Riograndense, o maestro contou como conheceu a capital potiguar: "Em 1977 vim acampar na praia de Cotovelo, e quando avistei Ponta Negra prometi que ainda viria morar aqui. Se não me botarem para fora, vou morrer aqui."
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