Marco Carvalho - Repórter Tribuna do NorteO policial militar da reserva, soldado João Maria Marques da Silva, está em estado grave após ser alvo de um atentado no município de Goianinha - a cerca de 60 quilômetros de Natal. Na noite da segunda-feira passada, quatro homens encapuzados invadiram sua casa e acertaram seis tiros na vítima, que foi levada imediatamente ao hospital Walfredo Gurgel. De acordo com informações da assessoria de comunicação da unidade médica, o PM se encontra no Centro de Recuperação Pós-Operatório (CRO), respirando por aparelhos. João Maria Marques possui um histórico de realização de denúncias e é um dos principais delatores de um suposto esquema de corrupção que levou o prefeito e seis vereadores do município de Vila Flor para a prisão.
O homem foi atingido três vezes no peito, duas vezes no braço e uma vez na boca, com um tiro de raspão. Os criminosos chegaram a utilizar uma espingarda calibre 12 para tentar matar o policial e estavam vestidos com coletes à prova de bala. Muito nervosos, ainda tentaram atingir outros familiares, mas não conseguiram - tendo fugido logo depois. O socorro foi prestado pela família, auxiliado posteriormente por profissionais do Samu.
Morador de Goianinha, o soldado possui família em Vila Flor e desde 2008 tentava construir uma carreira política na cidade. Candidato derrotado nas eleições passadas, João Maria se prepara para concorrer novamente em 2012. Foi no ano de 2009 que o perfil de investigador e denunciante começou a surgir. Na oportunidade, procurou o vereador Floriano Felinto para falar sobre irregularidades em contratos de terceirização de serviços de limpeza.
A partir daí, aproximou-se de Floriano para continuar denunciando supostas irregularidades que eram flagradas. No dia 19 de dezembro de 2011, o Ministério Público Estadual deflagrou a operação "Mensalão da Vila" e levou para a prisão o prefeito de Vila Flor, Grinaldo Joaquim de Souza, e seis dos nove vereadores da cidade. O soldado João Maria e o vereador Floriano Felinto foram os principais nomes responsáveis pela colheita de provas que apontaram um suposto esquema de corrupção no Executivo e Legislativo municipais.
"Ele foi uma peça muito importante nesse caso. Sempre colaborou e chegou a estar presente em alguns dos casos de corrupção", relatou Floriano Felinto. De acordo com familiares da vítima, o policial já recebeu diversas ameaças "Não precisaria acontecer isso, para se perceber que ele necessitava de segurança", protestou o vereador Felinto.
Conforme informações da assessoria de comunicação da Delegacia-geral de Polícia (Degepol), a Delegacia Especializada de Homicídios (Dehom) será responsável pela condução do inquérito que irá apurar as circunstâncias do fato. Ainda não houve designação para um delegado em específico. Na tarde de ontem, equipes do Instituto Técnico-científico de Polícia (Itep) estiveram na casa da vítima para realizar a perícia na cena do crime. Por não encontrar ninguém em casa, os peritos deixaram o local e ficaram de remarcar uma nova data para o serviço.
Vereador e PM recebem escolta policial
O vereador de Vila Flor, Floriano Felinto, e o soldado João Maria Marques da Silva estão sob escolta diuturna da Polícia Militar. Após o atentado que baleou o policial militar na noite da segunda-feira passada, o procurador-geral de Justiça requisitou ao comandante-geral da PM o reforço na segurança dos homens. Manoel Onofre Neto enviou pedido oficial ao coronel Francisco Canindé de Araújo Silva e foi prontamente atendido. Durante a manhã de ontem, a equipe de reportagem da TRIBUNA DO NORTE constatou equipes do 8º Batalhão em frente à casa do vereador no município de Vila Flor, a 80 quilômetros da capital.
Três policiais militares do Grupo Tático Operacional (GTO) realizam a proteção na porta da frente da casa de Floriano Felinto. De acordo com informações do coronel Araújo, a proteção se estenderá até segunda ordem do Ministério Público. "Fui comunicado oficialmente e desloquei o efetivo para a cidade assim que soube. O reforço na segurança permanece até quando o Ministério Público entender que é necessário", disse o comandante-geral da PM.
A assessoria de comunicação do MP informou que o pedido foi feito no sentido de garantir o contingente policial necessário. Ainda segundo a assessoria, não foi registrado pedidos anteriores de escolta por parte dos homens. Internado no Hospital Walfredo Gurgel, o soldado João Maria também conta com policiais que realizam a sua guarda na unidade médica.
"Me tornei um prisioneiro após a denúncia"
O vereador Floriano Felinto está com medo. Após ver o companheiro de denúncias gravemente ferido, Felinto se diz um prisioneiro da situação que criou. "Me tornei um prisioneiro. Tenho que rever os lugares por onde ando e tenho a minha liberdade restrita". O homem que delatou crimes envolvendo prefeitos, vereadores, empresários e secretários da administração da pequena cidade de Vila Flor está sob escolta policial de forma 24 horas. Três meses depois da operação do Ministério Público que investigou as irregularidades na cidade, Floriano quer mais apuração. Pretende lutar pela instalação de uma Comissão Especial de Inquérito. Na cozinha da sua casa, no centro de Vila Flor, o vereador conversou com a equipe de reportagem da TRIBUNA DO NORTE durante a tarde de ontem. Confira o que ele falou:
Como o senhor conheceu o soldado João Maria Marques?
Foi em 2009, quando ele me procurou para realizar denúncias de irregularidades que estava percebendo. O policial se dizia cansado de ver aquilo e queria fazer algo para mudar. Na oportunidade, registramos diversas ilegalidades, principalmente no que dizia respeito à contratação de empresas para limpeza urbana.
Qual foi a importância dele para a deflagração da operação Mensalão da Vila?
As investigações tiveram origem depois do meu depoimento e do dele. A partir daí, conseguimos a autorização judicial para gravar com câmeras escondidas e flagrar o esquema de corrupção na cidade.
Dada as circunstâncias, não seria necessário ter requisitado uma escolta para vocês dois?
O Ministério Público e a Polícia Militar são instituições que têm se empenhado, apesar das deficiências que possuem. A cidade de Vila Flor conta com um policial militar e o estado da delegacia é vergonhoso. Não sou só eu que necessita de escolta. Outros denunciantes também correm perigo e por isso que brigo por um reforço da PM para toda a cidade, e não só para mim.
O senhor teme pela sua vida?
Com certeza tenho essa preocupação. Mas não vou deixar de lutar contra o que acho errado. Estou com a minha liberdade restrita. Eu que me tornei prisioneiro após a denúncia, tendo que repensar os lugares por onde ando. Isso não é nada agradável. Tenho recebido ameaças e pessoas e carros estranhos têm rondado minha casa. Fui orientado a registrar os casos, mas as testemunhas desses casos ficam temerosas em ter qualquer envolvimento.
Adriano AbreuJoão Maria estava em casa na noite de segunda-feira quando foi alvejado por homens encapuzados
A TRIBUNA DO NORTE conversou com testemunhas do caso durante o dia de ontem. Segundo essas pessoas, que terão as identidades preservadas, o crime ocorreu por volta das 20h30 da segunda-feira. A mulher da vítima atendeu o portão quando uma pessoa que se identificou como "policial Marcelo" pedia para ver o soldado João Maria. Após receber a negativa para entrar, ele empurrou o portão e outros três homens encapuzados entraram na casa. A vítima se encontrava na sala e mostrou espanto com a presença dos homens. "Os bandidos perguntaram se ele era o João Maria. Depois de responder que sim, os homens apontaram as armas e disseram: 'Então vai morrer agora'", relatou a testemunha.O homem foi atingido três vezes no peito, duas vezes no braço e uma vez na boca, com um tiro de raspão. Os criminosos chegaram a utilizar uma espingarda calibre 12 para tentar matar o policial e estavam vestidos com coletes à prova de bala. Muito nervosos, ainda tentaram atingir outros familiares, mas não conseguiram - tendo fugido logo depois. O socorro foi prestado pela família, auxiliado posteriormente por profissionais do Samu.
Morador de Goianinha, o soldado possui família em Vila Flor e desde 2008 tentava construir uma carreira política na cidade. Candidato derrotado nas eleições passadas, João Maria se prepara para concorrer novamente em 2012. Foi no ano de 2009 que o perfil de investigador e denunciante começou a surgir. Na oportunidade, procurou o vereador Floriano Felinto para falar sobre irregularidades em contratos de terceirização de serviços de limpeza.
A partir daí, aproximou-se de Floriano para continuar denunciando supostas irregularidades que eram flagradas. No dia 19 de dezembro de 2011, o Ministério Público Estadual deflagrou a operação "Mensalão da Vila" e levou para a prisão o prefeito de Vila Flor, Grinaldo Joaquim de Souza, e seis dos nove vereadores da cidade. O soldado João Maria e o vereador Floriano Felinto foram os principais nomes responsáveis pela colheita de provas que apontaram um suposto esquema de corrupção no Executivo e Legislativo municipais.
"Ele foi uma peça muito importante nesse caso. Sempre colaborou e chegou a estar presente em alguns dos casos de corrupção", relatou Floriano Felinto. De acordo com familiares da vítima, o policial já recebeu diversas ameaças "Não precisaria acontecer isso, para se perceber que ele necessitava de segurança", protestou o vereador Felinto.
Conforme informações da assessoria de comunicação da Delegacia-geral de Polícia (Degepol), a Delegacia Especializada de Homicídios (Dehom) será responsável pela condução do inquérito que irá apurar as circunstâncias do fato. Ainda não houve designação para um delegado em específico. Na tarde de ontem, equipes do Instituto Técnico-científico de Polícia (Itep) estiveram na casa da vítima para realizar a perícia na cena do crime. Por não encontrar ninguém em casa, os peritos deixaram o local e ficaram de remarcar uma nova data para o serviço.
Vereador e PM recebem escolta policial
O vereador de Vila Flor, Floriano Felinto, e o soldado João Maria Marques da Silva estão sob escolta diuturna da Polícia Militar. Após o atentado que baleou o policial militar na noite da segunda-feira passada, o procurador-geral de Justiça requisitou ao comandante-geral da PM o reforço na segurança dos homens. Manoel Onofre Neto enviou pedido oficial ao coronel Francisco Canindé de Araújo Silva e foi prontamente atendido. Durante a manhã de ontem, a equipe de reportagem da TRIBUNA DO NORTE constatou equipes do 8º Batalhão em frente à casa do vereador no município de Vila Flor, a 80 quilômetros da capital.
Três policiais militares do Grupo Tático Operacional (GTO) realizam a proteção na porta da frente da casa de Floriano Felinto. De acordo com informações do coronel Araújo, a proteção se estenderá até segunda ordem do Ministério Público. "Fui comunicado oficialmente e desloquei o efetivo para a cidade assim que soube. O reforço na segurança permanece até quando o Ministério Público entender que é necessário", disse o comandante-geral da PM.
A assessoria de comunicação do MP informou que o pedido foi feito no sentido de garantir o contingente policial necessário. Ainda segundo a assessoria, não foi registrado pedidos anteriores de escolta por parte dos homens. Internado no Hospital Walfredo Gurgel, o soldado João Maria também conta com policiais que realizam a sua guarda na unidade médica.
"Me tornei um prisioneiro após a denúncia"
O vereador Floriano Felinto está com medo. Após ver o companheiro de denúncias gravemente ferido, Felinto se diz um prisioneiro da situação que criou. "Me tornei um prisioneiro. Tenho que rever os lugares por onde ando e tenho a minha liberdade restrita". O homem que delatou crimes envolvendo prefeitos, vereadores, empresários e secretários da administração da pequena cidade de Vila Flor está sob escolta policial de forma 24 horas. Três meses depois da operação do Ministério Público que investigou as irregularidades na cidade, Floriano quer mais apuração. Pretende lutar pela instalação de uma Comissão Especial de Inquérito. Na cozinha da sua casa, no centro de Vila Flor, o vereador conversou com a equipe de reportagem da TRIBUNA DO NORTE durante a tarde de ontem. Confira o que ele falou:
Como o senhor conheceu o soldado João Maria Marques?
Foi em 2009, quando ele me procurou para realizar denúncias de irregularidades que estava percebendo. O policial se dizia cansado de ver aquilo e queria fazer algo para mudar. Na oportunidade, registramos diversas ilegalidades, principalmente no que dizia respeito à contratação de empresas para limpeza urbana.
Qual foi a importância dele para a deflagração da operação Mensalão da Vila?
As investigações tiveram origem depois do meu depoimento e do dele. A partir daí, conseguimos a autorização judicial para gravar com câmeras escondidas e flagrar o esquema de corrupção na cidade.
Dada as circunstâncias, não seria necessário ter requisitado uma escolta para vocês dois?
O Ministério Público e a Polícia Militar são instituições que têm se empenhado, apesar das deficiências que possuem. A cidade de Vila Flor conta com um policial militar e o estado da delegacia é vergonhoso. Não sou só eu que necessita de escolta. Outros denunciantes também correm perigo e por isso que brigo por um reforço da PM para toda a cidade, e não só para mim.
O senhor teme pela sua vida?
Com certeza tenho essa preocupação. Mas não vou deixar de lutar contra o que acho errado. Estou com a minha liberdade restrita. Eu que me tornei prisioneiro após a denúncia, tendo que repensar os lugares por onde ando. Isso não é nada agradável. Tenho recebido ameaças e pessoas e carros estranhos têm rondado minha casa. Fui orientado a registrar os casos, mas as testemunhas desses casos ficam temerosas em ter qualquer envolvimento.
Nenhum comentário:
Postar um comentário
Os comentários serão avaliados antes de serem liberados