sexta-feira, 6 de abril de 2012

Mulher de Cachoeira diz que ele vai se pronunciar sobre acusações

Jornal de Fato
Edilson Damasceno
Da Redação
Pivô do principal escândalo político brasileiro do momento, o contraventor Carlos Augusto Ramos, "Carlinhos Cachoeira" não deve silenciar sobre as acusações contra ele, inclusive a proximidade com políticos, como o senador Demóstenes Torres (sem partido/GO), o governador de Goiás, Marconi Perillo (PSDB/GO), e o deputado federal Stepan Nercessian (PPS/RJ).
 Assim que for solto, Cachoeira vai se pronunciar, garantiu ontem a mulher dele, empresária Andressa Alves de Mendonça, quando se preparava para embarcar no jatinho fretado que a trouxe para a segunda visita ao marido no Presídio Federal de Mossoró.
Andressa chegou por volta das 7h30 ao Aeroporto Dix-sept Rosado em um jatinho fretado, no valor de R$ 60 mil, e foi embora às 15h10, com pelo menos duas horas de atraso. Acompanhada de duas mulheres e um homem, a empresária não queria conversar com a reportagem, mas logo depois aceitou falar sobre a situação do marido, "desde que não seja gravado".
Andressa afirmou que Carlinhos Cachoeira esclarecerá todas as acusações de pagamento de propina a políticos e o envolvimento de senador, governador e deputados no esquema relacionado a jogos de azar. "Ele vai se pronunciar. Primeiro ele vai olhar as acusações e depois vai se pronunciar", disse.
Em entrevista ao jornal Correio Braziliense, a empresária disse que o marido conversa com ela sobre a empresa (dele) que explorou jogos legalmente e afirmou que Cachoeira disse que o Brasil é hipócrita. Ontem, perguntada sobre se o termo (hipócrita) estaria relacionado às denúncias contra Cachoeira, ela disse que se voltava à questão de jogos (veja a entrevista).
Andressa não estava gostando da conversa e, ao perceber sinal do homem que a acompanhava para que não falasse, errou o caminho da sala de embarque. Perguntada sobre quando o advogado de Carlinhos Cachoeira, ex-ministro da Justiça Márcio Tomas Bastos, entrará com o Habeas Corpus, ela respondeu que não tem prazo certo. "Ainda não tem prazo, mas provavelmente na próxima semana", disse.
Ao ser indagada se Carlinhos Cachoeira tem conhecimento da repercussão envolvendo o apadrinhamento financeiro a políticos, como Demóstenes e o governador de Goiás, que são acusados de serem beneficiados com dinheiro da contravenção, Andressa afirmou que ele esclarecerá tudo quando sair do presídio.
Andressa Alves retornou do Presídio Federal de Mossoró às 14h50. Antes de o jatinho decolar, o piloto procurou a reportagem para pedir que o prefixo da aeronave não fosse identificado.
PERFIL
A mulher de Carlinhos Cachoeira deixou transparecer ser uma pessoa de bom gosto. Usava blusa creme e calça cáqui e portava uma bolsa de grifes famosas. Em nenhum momento da conversa ela tirou os óculos. No retorno ao Aeroporto Dix-sept Rosado, a bagagem tirada do táxi se resumia a duas bolsas e uma pequena mala, nas quais teria levado algo para o marido.
CRISE
A ligação de Carlinhos Cachoeira com políticos motivou uma crise política considerável no DEM, PSDB e PPS. O Democratas ameaçou expulsar o senador Demóstenes Torres, mas o parlamentar saiu antes, para evitar maiores problemas políticos. Agora, ele está com o mandato ameaçado e deve enfrentar o Conselho de Ética do Senado.
Depois de Demóstenes, o governador de Goiás, Marconi Perillo, e o deputado federal Stepan Nercessian surgem como beneficiários do esquema de máquinas caça-níqueis montado por Cachoeira. Ontem, Marconi Perillo admitiu que se encontrou com Cachoeira em três oportunidades, duas delas na casa de Demóstenes Torres.

Cachoeira controlava bancada multipartidária no Congresso
A investigação da Polícia Federal que desmantelou a máfia dos caça-níqueis montada em Goiás e nos arredores de Brasília mostra que o contraventor Carlos Augusto Ramos, "Carlinhos Cachoeira", apontado como chefe do esquema, controlava uma bancada multipartidária no Congresso Nacional, além de manter ligação indireta com pelo menos dois governadores. Além do senador Demóstenes Torres (GO), ex-DEM, Cachoeira era próximo de parlamentares de mais cinco partidos: PT, PSDB, PP, PTB e PPS.
Os grampos da Polícia Federal na Operação Monte Carlo, que desbaratou o esquema de Cachoeira, revelam que ele tinha relações de intimidade com os parlamentares, com quem tratava de negócios e falava sobre quantias em dinheiro, devidas e a receber.
Os deputados goianos Rubens Otoni (PT), Carlos Alberto Leréia (PSDB), Sandes Júnior (PP) e Stepan Nercessian (PPS-RJ), flagrados em conversas com Cachoeira, já respondem a processos na Corregedoria da Câmara. O líder do PTB, Jovair Arantes (GO), admitiu que é amigo de Cachoeira e pediu o apoio dele à pré-campanha à Prefeitura de Goiânia.
O petista Rubens Otoni teve de explicar uma doação não declarada de R$ 100 mil de Cachoeira à campanha dele à Prefeitura de Anápolis. Otoni disse que Cachoeira queria a ajuda dele para desenrolar a papelada de um laboratório na cidade.
O tucano Carlos Alberto Leréia ainda não explicou um depósito de Cachoeira destinado a ele, rastreado pela Polícia Federal, no valor de R$ 100 mil. Leréia usava um dos telefones Nextel, cedidos por Cachoeira e habilitados nos Estados Unidos, para dificultar grampos. O tucano disse que só vai se pronunciar depois que sua defesa tiver acesso ao inquérito. Ao contrário da direção do DEM, que cobrou a expulsão imediata de Demóstenes, o presidente do PSDB, deputado Sérgio Guerra (PE), pediu um tempo para que o tucano se explique. "Não prejulgamos ninguém, mas desejamos esclarecimentos".
A chefe de gabinete de Marconi, Eliane Pinheiro, pediu exoneração do cargo depois de aparecer em conversas em que passava informações sigilosas sobre operações policiais que tinham como alvo o esquema do contraventor.
Outro governador indiretamente envolvido é o petista Agnelo Queiroz, do Distrito Federal. Grampos da Polícia Federal indicam que um integrante do governo dele participou de uma operação para direcionar um contrato milionário, estimado em R$ 60 milhões, para a máfia dos jogos.

Advogados pedem remoção de Cachoeira de presídio federal
Os advogados do empresário Carlos Augusto Ramos, "Carlinhos Cachoeira", suspeito de comandar um esquema de jogos ilegais, pediram à Justiça sua remoção do presídio federal localizado em Mossoró. A defesa argumenta que Carlinhos Cachoeira não deveria ser submetido aos rigores do sistema prisional federal, com diversas restrições que não são aplicadas em outros presídios.
No pedido, a defesa não pede a transferência para alguma penitenciária específica. Pede apenas que Cachoeira seja transferido para alguma penitenciária que fique mais próxima da família, que vive em Goiás, e dos advogados, sediados em São Paulo.
Dora Cavalcanti, uma das advogadas que defende Carlinhos Cachoeira, argumenta que as normas de segurança estabelecidas no presídio federal atrapalham o trabalho da defesa. "Não podemos entrar com nenhuma anotação. Mesmo se tivéssemos uma memória de elefante teríamos dificuldade para discutir com nosso cliente partes do processo", diz. Além de Dora Cavalcanti, o ex-ministro da Justiça Márcio Thomaz Bastos faz a defesa do empresário suspeito de chefiar a chamada "máfia dos caça-níqueis".
Ela afirma que é a primeira vez que Carlinhos Cachoeira é preso e argumenta que seu cliente não tem se comportado mal ou tentado cometer alguma irregularidade dentro do presídio, como contrabandear um telefone celular para dentro da carceragem.
Cachoeira está preso desde 29 de fevereiro. Sua transferência para a penitenciária de segurança máxima de Mossoró foi pedida pelo Ministério Público e deferida pela Justiça Federal em Goiás. O pedido de transferência, protocolado na terça-feira, foi encaminhado para parecer do MP e deverá ser decidido apenas na próxima semana. Pelo menos até lá, Carinhos Cachoeira continuará submetido ao rigor do sistema federal.
Os advogados de Cachoeira pediram um habeas corpus no final de março. A Terceira Turma do Tribunal Regional Federal da 1a. Região negou, por unanimidade, o pedido de liberdade. Os desembargadores julgaram que era preciso manter Cachoeira preso para garantir a manutenção da ordem pública

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