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"Pegue o beco". Êta gíria que ficou conhecida em nosso estado, ao ponto de ultrapassar o espaço regional e ficar conhecida em todo territótio brasileiro. Severino Geraldo, largo e baixo, como um botijão de gás, é conhecido como Pitoroco devido ao seu tamanho. Sempre foi conversador, desconfiado e esperto.
Severino é um pequeno agricultor que foi expulso do campo através do êxodo rural, com o fim da cultura algodoeira, no início da década de 80. Por isso, nessa época, Pitoroco colocou um boteco para vender caçhaça e sustentar sua família. Imagine que o boteco era na sua casa, mesmo assim os pingunços faziam a festa. A 'meiota' era certa e lotava o local na hora do almoço e na hora da janta.
Próximo ao local do 'bar' existe um beco conhecido como travessa "Agostinho Pereira". Então, a história verídica de 'pegue o beco' aconteceu mais ou menos assim: o pedreiro Moabe Alves Bezerra tomava uma caeba insuportável, era tipo pingunço chato. No outro dia, ele já chegou 'escamado' com uma equipe titular para tomar umas biritas no boteco de Pitoroco. Depois de uma 'meiota', o pedreiro esquentou a orelha e começou a perturbar o ambiente familiar, por isso, foi expulso com a cambada.. O detalhe é que no dia seguinte Moabe se aproxima para tomar a 'meiota' do almoço. De imediato, Pitoroco retrucou: " Moabe, pegue o beco. E não apareça mais aqui com sua inhaca".
Com isso, no outro dia, em Pedro Avelino, em qualquer situação vexatória, vinha logo alguém dizendo: 'pegue o beco'. Essa expressão ocorreu no ano de 1982,em setembro, antes das eleições, e imediatamente ultrapassou os limites dos municípios vizinhos , chegando a Natal e, posteriormente, ao Nordeste e ao Brasil inteiro.
Brincando com Severino Geraldo, em 1982 vários colegas sugeriram que registrasse a expressão no cartório local, como se fosse patentear esse ditado popular, que se tornou nacionalmente conhecido. Detalhe: Pitoroco era um agricultor semi-analfabeto que o êxodo rural o expulsou para a cidade. Jamais saberia o que é patentear.
E não param as loucuras no boteco de Pitoroco. Antônio Alves Bezerra, conhecido como Totonho ou Jacaré, sempre foi peça rara. Totonho, que é irmão de Moabe, chegou ao bar de severino, tomou umas doses de cachaça com o tira-gosto no garfo e percebeu um gato que não parava de miar. Jacaré pegou um molho 'brabo' e botou nos olhos do bichano, que saiu correndo desesperado. Severino ficou uma fera. Depois, no mesmo dia, Totonho colocou molho num pedaço de carne e ofereceu ao filho de Pitoroco. A criança botou na boca e saiu chorando. Esse mesmo menino foi dormir numa rede próximo ao local da bebedeira. Imagine que Jacaré balançou a rede, suspendeu a criança e puxou a 'baladeira'. Resultado: o menino danou-se no chão. E foi choro pra danado. Pitoroco perdeu a paciência, puxou uma peixeira e, dessa vez, quem correu foi Jacaré.
Severino dos Ramos Marcélio, irmão de Júnior Cabeção, chegou lá por uma hora da madrugada no boteco, chamou Pitoroco e disse: "Severino, encontrei sua filha namorando uma hora dessa numa das praças da cidade". Severino Geraldo endoideceu e foi procurar a filha em todas as praças. Na realidade, a moça estava na festa de colação de grau da turma concluinte do ensino fundamental, antigo ginasial, no Josefa Sampaio. No mesmo dia, pela manhã, Pitoroco foi à forra com Marcélio.
Severino Geraldo gostava de tomar umas biritas. Ele tinha uma pequena fazenda em Riacho do Meio e convidou uma turma danada para passar um domingo no seu sítio. Mocotó de boi e cachaça à vontade. Depois de muita 'zinebra', o anfitrião foi dormir numa rede. O motorista conhecido como João de Culó pegou um facão e cortou os punhos da rede. Queda feia de Pitoroco, que pegou um facão e saiu cambaleando atrás de João , que foi embora.
O boteco de Severino funcionava na sua residência. O veterinário Edvaldo chegou com Heriberto Maciel e Chico Félix para tomar uma garrafa de aguardente. Depois de uma 'meiota', Heriberto e Edvaldo deram 'corda' para que Chico Félix botasse o 'negócio' para fora. Este quando abriu a braguilha, Pitoroco puxou uma faca de 12 polegadas e expulsou o trio.
Os estudantes Marcondes Amarante e Severino Marcélio chegaram ao boteco de Pitoroco e tomaram uma cachaçada com buchada de três dias. Coincidência ou não, no outro dia, os dois viajaram para Natal e foram cirurgiados com urgência de apendicite.
Há vários anos que Pitoroco não tem mais o boteco. Deixou de beber e não vende mais cachaça. Ele ultrapassou a barreira dos 50 anos. Com todo respeito: Pitoroco, pegue o beco.
O Jornal de Hoje, 25 de setembro de 1999.
Artigo:Marcos Calaça, jornalista (UFRN).
Nota: Severino Geraldo faleceu em fevereiro de 2010.
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