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Cientistas dizem que número de espécies terrestres e marinhas deve girar em torno de 5 milhões
São Paulo (AE) - O número de espécies no planeta Terra não é tão grande quanto muitos acreditam ser. Assim como o número de espécies que estão sendo extintas pela ação do homem não é tão grande quanto muitos estimam ser. E, com um pouco mais de esforço e investimento, é possível descrever e proteger todas as espécies do planeta ainda neste século. São as conclusões de um artigo que será publicado hoje na revista Science, que promete se tornar um dos mais comentados e polêmicos da biologia nos últimos tempos. Assinado por três pesquisadores de renome na área - entre eles, o ecólogo Robert May, da Universidade de Oxford -, o trabalho questiona, de forma contundente, algumas das previsões mais pessimistas sobre o futuro da biodiversidade.
Os autores fazem uma revisão da literatura científica sobre o assunto e concluem que a crise global sobre conhecimento e conservação da biodiversidade não é tão grave quanto a maioria de seus colegas ecólogos e zoólogos acreditam ser.Segundo eles, o número total de espécies terrestres e marinhas do planeta (não incluindo bactérias) deve girar em torno de 5 milhões (algo entre 2 milhões e 8 milhões), bem abaixo de algumas estimativas do passado, que chegavam a 100 milhões.
O número de espécies já conhecidas, de acordo com eles, é de aproximadamente 1,5 milhão; e a taxa de extinção pode chegar a 5% por década, mas não deve passar de 1%, numa análise mais realista.
"Estimativas superestimadas de taxas de extinção e do número de espécies são autodestrutivas porque deixam a impressão de que esforços para descobrir e conservar a biodiversidade são inúteis", escrevem os autores na Science. Além de May, o artigo é assinado por Mark Costello, da Universidade de Auckland (Nova Zelândia), e Nigel Stork, da Universidade Griffith (Austrália). "Acreditamos que, com um aumento modesto nos esforços de conservação e taxonomia (ciência que descreve e classifica organismos), a maioria das espécies poderia ser descoberta e protegida da extinção."
Apesar do currículo respeitável dos autores, certamente não faltarão críticas ao artigo. Especialmente por parte de pesquisadores de países tropicais e em desenvolvimento, como o Brasil, que têm o maior número de espécies (conhecidas e desconhecidas) e enfrentam os maiores desafios para descrevê-las "Acho que eles estão com uma visão europeia do problema, excessivamente otimista para a nossa realidade", disse o ecólogo Thomas Lewinsohn, pesquisador da Universidade Estadual de Campinas (Unicamp) e presidente da Associação Brasileira de Ciência Ecológica e Conservação (Abeco). "Há muitos buracos negros subestimados no trabalho."
Polêmica
Outro diagnóstico questionado pelo artigo é o de que há uma escassez global de taxonomistas e por isso muitas espécies estariam desaparecendo antes mesmo de sabermos que elas existem. Eles estimam que há cerca de 50 mil taxonomistas no mundo, descrevendo uma média de 17,5 mil espécies por ano. "Se essa taxa de descrição for aumentada para 20 mil espécies por ano, 3,5 milhões de espécies serão conhecidas até o ano 2100", dizem os autores - o que já seriam, potencialmente, todas as espécies do planeta. Lewinsohn, mais uma vez, acha que Costello, May e Stork exageram no otimismo e ignoram muitas das dificuldades de trabalho e financiamento que a taxonomia enfrenta nos países em desenvolvimento. "O artigo é útil para reenfatizar a importância do conhecimento completo da biodiversidade da Terra e é bom ter uma injeção de ânimo, mas ele deixa a impressão de que, para chegarmos lá, basta querer. Seria ótimo se fosse verdade, mas minha avaliação é mais cética."
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