quarta-feira, 12 de fevereiro de 2014

Exame em PM suspeito de matar lutador de MMA é 'discutível', diz perita

Tenente Iranildo Félix fez exame de resíduos de chumbo nesta quarta (12).
Ele é suspeito de ter atirado em Luiz de França, assassinado em Natal.

Tenente da PM Iranildo Félix, suspeito do crime (Foto: Heloísa Guimarães/Inter TV Cabugi ) 
Tenente da PM Iranildo Félix, suspeito do crime
(Foto: Heloísa Guimarães/Inter TV Cabugi )
O tenente da PM Iranildo Félix, apontado como suspeito de ter matado a tiros o professor e lutador de MMA Luiz de França Trindade, de 25 anos, assassinado no início da semana na zona Sul de Natal, realizou na manhã desta quarta-feira (12) exames que podem identificar se há vestígios de chumbo nas mãos dele. Ele foi ao Instituto Técnico-Científico de Polícia (Itep) acompanhado de outros dois policiais militares. Contudo, mesmo que seja positivo, o resultado poderá ser questionado pela defesa do oficial. “É um resultado que é considerado discutível, já que ele é um policial militar que manuseia arma com frequência”, explicou a perita Lydice Guerra, subcoordenadora de Criminalística do Itep. O tenente nega qualquer envolvimento no crime.
“A informação que nós temos é que ele está de licença médica, e que não poderia sair armado. Mas, em casa, ele tem total liberdade de mexer na arma na hora que bem entender”, acrescentou a perita. A arma do tenente, segundo o delegado que investiga o caso, não foi apreendida ou periciada. “A arma dele é uma pistola 380. O calibre das balas que mataram o lutador são de pistola calibre ponto 40”, ressaltou Sílvio Fernando.
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Luiz de França foi assassinado dentro de academia em Natal (Foto: Luiz de França/Arquivo pessoal) 
Luiz de França foi assassinado na zona Sul de Natal (Foto: Luiz de França/Arquivo pessoal)
Ainda de acordo com o perita do Itep, o resultado do exame de residuograma de chumbo, também conhecido como exame residuográfico, deve ficar pronto em no máximo 10 dias. Para a polícia, a coordenadora acredita que o resultado da perícia será usado no processo apenas como presunção.
O crime
Luiz de França Sousa Trindade foi assassinado a tiros por volta das 9h da manhã da segunda-feira (10) na calçada da academia Alta Performance, que fica na rua Serra da Jurema, no conjunto Cidade Satélite, zona Sul de Natal.
O lutador levou vários disparos de pistola e morreu no local. O professor de artes marciais Ademir Júnior, conhecido como 'Júnior Sustagen', também foi baleado na perna, mas passa bem.
Segundo testemunhas, o suspeito de efetuar os disparos fugiu numa moto acompanhado de outro homem.
Investigação
Segundo o delegado Sílvio Frenando, titular da 11ª DP, o tenente Iranildo Félix foi visto com uma roupa parecidas com a do motociclista que efetuou os disparos contra o lutador Luiz de França. "Conversei com um policial militar no dia do crime e foram dadas as mesmas características que ouvi da testemunha que presenciou o crime", afirmou.
Luiz de França foi morto em academia no bairro de Cidade Satélite, em Natal (Foto: Augusto Gomes) 
Academia Alta Performance fica no conjunto
Cidade Satélite (Foto: Augusto Gomes/G1)
Ainda de acordo com o delegado, o policial militar teria visto o tenente logo cedo na Companhia de Polícia Militar do bairro Planalto, zona Oeste de Natal, utilizando um moleton verde e uma bermuda antes do horário do crime. "O PM não soube explicar por qual motivo o tenente estava lá, já que ele está afastado e é lotado no CPRE (Comando do Policiamento Rodoviário Estadual)", diz. As características batem com o que foi dito em depoimento pelo professor de artes marciais Ademir Júnior, conhecido como 'Júnior Sustagen', que foi baleado nas pernas durante o atentado. Em entrevista exclusiva ao G1, o professor disse que teve sorte de não ter se ferido gravemente e pediu justiça.

O titular da 11ª Delegacia de Polícia Civil adianta que vai convocar o policial militar que viu o tenente na manhã do dia do crime para prestar depoimento. Além de 'Júnior Sustagen', o delegado também ouviu nesta terça os donos da academia Alta Performance.
Motivação
O delegado Sílvio Fernando trabalha com duas linhas de investigação até o momneto. Uma delas é que o crime pode ter sido motivado por uma traição. “Podemos estar diante de um crime passional. Temos informações de que o lutador teria se envolvido com a namorada do tenente”, afirmou.

A outra suspeita da Polícia Civil é que um desentendimento entre o PM e o lutador de MMA possa ter motivado o crime. A defesa do tenente Iranildo Félix confirma que os dois se desentenderam, mas alega que o caso não foi grave. "Houve um desentendimento, mas nada muito grave. Não houve discussão mais pesada, nem agressão física", explica a advogada Juliana Melo.

De acordo com a defesa, o policial fez uma aula experimental no fim de janeiro na academia Alta Performance, onde o lutador foi assassinado, porém não gostou do treinamento. A advogada diz que quando foi para o segundo treino o tenente decidiu não continuar e por já ter feito o pagamento adiantado da mensalidade, teve o dinheiro devolvido. "A mudança foi para uma academia da mesma rede. Se tivesse sido expulso, o oficial não poderia fazer isso", acrescenta.
Ainda segundo Juliana Melo, o tenente acredita que foi apontado como suspeito do crime devido ao desentendimento na academia e pelo fato de ser policial. "Os dois não tiveram mais nenhum tipo de contato após esse desentendimento. O oficial inclusive bloqueou a vítima nas redes sociais para não ter mais contato", afirma a advogada.
'Álibi fraco'
O tenente Iranildo Félix prestou depoimento ainda na segunda-feira e foi liberado em seguida. O álibi apresentado pelo oficial não convenceu delegado Sílvio Fernando. No depoimento, o policial afirmou ter ido a uma outra academia por volta das 8h. No entanto, segundo o delegado, a biometria e as câmeras do local mostram que o oficial da PM chegou às 10h08, logo após o assassinato ter acontecido. "O crime ocorreu antes das 10h", afirma Sílvio Fernando. "Os percursos e os horários informados por ele não batem. O álibi é muito fraco", acrescentou o delegado.
Apesar de não ter sido convencido pelo depoimento, o delegado explica que ainda não tem elementos suficientes para indiciar o oficial da PM.

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