sexta-feira, 11 de julho de 2014

Vacina freia o câncer cerebral

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Na Alemanha, terapia testada em ratos gera anticorpos que retardam o desenvolvimento de tumores nas células que protegem neurônios. Cientista do Brasil faz pesquisa semelhante e se prepara para testá-la em humanos

Os tumores cerebrais conhecidos como gliomas são sempre um diagnóstico grave. Eles recebem o nome por se originarem nas células gliais, responsáveis pela proteção, pela nutrição e pelo suporte aos neurônios. Representam 80% do tipo maligno iniciado no cérebro e são incuráveis. Atualmente, o procedimento terapêutico padrão segue os mesmos preceitos de outros tipos de cancros: cirurgia, quimioterapia e radioterapia. Quando efetivo, consegue atrasar o desenvolvimento da doença, que, na maioria das vezes, terá recidiva de um tipo ainda mais grave do mal. A esperança para pacientes com o problema começa a surgir na imunoterapia, vista por muitos especialistas como a grande promessa de combate aos cânceres.

Pesquisadores das universidades de Heidelberg e de Tubingen, na Alemanha, publicaram hoje, na revista científica Nature, um trabalho bastante promissor na busca por um imunizante capaz de retardar a corrida destruidora desse tipo de doença. O artigo foca na atuação da proteína IDH1, expressa em uma grande fração dos gliomas, especialmente nos astrocitomas — as neoplasias cerebrais primárias mais comuns — em grau II e III. Em ambos os quadros, existe uma mutação genética muito frequente (IDH1-R132H), percebida em mais de 60% dos gliomas que expressam a proteína estudada pelos alemães. “Essa terapia tem como base o conceito de que só as células do tumor expressam a versão mutante dessa enzima, as células normais, não”, resume Glaucia Noeli Hajj, bióloga e pesquisadora do A.C. Camargo Cancer Center.

Dessa forma, foi possível construir uma resposta imune específica contra a proteína mutante para desacelerar o crescimento do cancro. Não é uma vacina preventiva, mas terapêutica. “A proposta deles é que essa terapia poderia estimular o sistema imune do paciente a montar uma resposta contra um tumor que já esteja presente, diminuindo, então, a progressão dele para formas mais agressivas”, complementa Hajj. Essa consequência é muito comum em cânceres desse tipo. Um astrocitoma de grau IV, por exemplo, pode surgir com a progressão de um de graus II ou III. Ao atingir o quarto nível de gravidade, passa a ser chamado de glioblastoma. Ele é, ao mesmo tempo, o tipo mais grave e o mais comum de glioma diagnosticado — representa cerca de 55% dos casos.

Os camundongos portadores da mutação IDH1-R132H e vacinados pela equipe liderada por Michael Platten produziram anticorpos que atacaram as proteínas expressas pelas células mutantes. “Conceitualmente, as pessoas com gliomas de baixo grau e alta prevalência da mutação IDH1 (R132H) representam uma população de pacientes que pode se beneficiar de uma vacina de tumor, que pode permanecer estável ou minimamente crescendo por vários anos”, garante o pesquisador.

Experiência brasileira

Professor da Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo e responsável pela neurocirurgia do Instituto do Câncer do Estado de São Paulo (Icesp), Guilherme Lepski conta que conhece o trabalho do grupo da Alemanha, pois também é professor da Universidade de Tubingen. No Brasil, ele desenvolve estratégia de imunoterapia para combater o mesmo tipo de mal. “A doença é altamente maligna e a medicina ainda não tem meios adequados para tratá-la. Então, existe muito interesse na pesquisa para deter esse tumor.” Segundo Lepski, a doença não é rara, a incidência alcança 2% de todos os cânceres que acometem a população adulta.

No trabalho da Alemanha, o conceito de vacina é aplicado quase à risca. Assim como no caso de uma infecção viral parte do vírus é injetada no organismo para aprimorar a resposta imune, foi criada uma vacina com base em um marcador do tumor que é inoculada no organismo do paciente para produzir anticorpos. “Nossa estratégia é diferente, estamos desenvolvendo uma vacina contra várias partes diferentes do tumor e que ative as células de defesa contra ele por inteiro, não só uma proteína específica”, diferencia Lepski. “Solicitamos autorização à comissão de ética para que, nos próximo semestre, possamos iniciar a primeira etapa de ensaio clínico. Estamos aguardando só isso para poder trazer os primeiros casos.”

As vacinas de Lepski precisam ser individualizadas. Ele explica que a imunoterapia é a ideia de fazer o paciente com um tumor ativar o sistema de defesa de forma personalizada. Para cada doente, é preciso coletar amostras do cancro, das células sanguíneas e do sistema de defesa. Se o material for de outra pessoa, pode ser identificado como invasor e passar a ser alvo do sistema imune. Para participar do ensaio clínico, o paciente precisará estar sob condições específicas. Entre elas, já ter sido submetido ao tratamento convencional.

Batalha de um vencedor

Estrela do basquete mundial, Oscar Schmidt trouxe o glioma para os holofotes ao anunciar o tratamento contra o problema em 2011. O brasileiro foi diagnosticado com um câncer na parte frontal esquerda do cérebro. Em 2011, quando foi submetido à primeira cirurgia, o câncer foi identificado como maligno de grau 2, considerado baixo. Desde a última cirurgia, a doença aumentou para o grau 3 e hoje é considerada de grau 4. No último domingo, em um programa de televisão, o ex-atleta voltou a mostrar otimismo ao falar sobre a doença. Disse que ela “pegou o cara errado”. 


















Fonte: 
Correio Braziliense 

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