sexta-feira, 22 de julho de 2016

BAR DE FUÍBA


Manoel de Franco cedo despertou para o comércio. Ainda adolescente vendia em sua casa. E, aos sábados, negociava no comércio do seu pai. Fotos amarelecidas atrás da porta que dá para uma ante-sala desvendando lembranças. O velho bar de Manoel Ernesto, conhecido como Fuíba, cheio de elipses de mentes diferentes, como amorosas, mentais,
alcoólatras, amantes e amigas. A maioria, povos simples. No bolso, pouco dinheiro. Mas havia felicidade e riso na alma infinda de uma discussão que, na maioria das vezes, girava em um bom bate-papo. Era o local mais eclético e democrático dos pedro-avelinenses. Nele discutia-se de tudo, principalmente, os assuntos que travavam paixões intensas e eternas como a política e o futebol. Nesse lugar dava-se palpite em jogo de bicho, em jogo de futebol, na política local, no inverno, na seca...Tem sido assim durante várias décadas de estórias e histórias, contadas por amigos, pinguços, clientes e outros frequentadores deste espaço lúdico da boemia da nossa cidade. Durante as décadas de 1970 e início de 1980, no auge da safra algodoeira, aos sábados, o bar de Fuíba servia de palco para os pagodeiros, forrozeiros, violeiros, seresteiros, pandeiristas, emboladores de coco, boêmios, bêbados e a sociedade em geral. Isso numa época de agricultura forte e rentável. O bar era uma espécie de teatro ao ar livre. No início, existia tira gosto de 'caça', depois a especialidade passou a ser o tradicional limão para os caebeiros. Além da cerveja gelada, também existiam bebidas destiladas em que suas prateleiras deixavam um tesouro etílico de velhas lembranças de dar água na boca para os bons apreciadores antigos e refinados. Dezenas de cachaças antigas com tampa de cortiça. Aguardentes que algumas marcas não são mais fabricadas. Esse tesouro fazia com que o velho Fuíba não negociasse. Não vendia, não abria, não trocava e não servia. Era só sonho e vontade de alguns ébrios. Velho bar, você fechou com a ida para a vida eterna de seu dono, mas a boemia do nosso torrão guarda lembranças infindáveis, histórias hilariantes que ficarão guardadas para sempre. Povão e figuras notáveis. Encontros aos sábados para uma boa conversa, além da cachaça e da cerveja. Ponto de encontro de várias gerações, como da minha época. Esse bar funcionava como preliminar para uma festa no Country Club, carnaval, vaquejada, além de festas folclóricas e tradicionais. Era também o local exato que antecedia o clássico rival entre Flamengo e Vasco. Manoel sempre preservou a relação de amizade com alguns fregueses antigos. A ideia de fiado era para pessoas certas, embora, alguns ficavam incertos. Muitas histórias se passaram nesse bar, em que quase todos falavam a mesma língua. Uma cultura com simplicidade. Velho bar, sua marca está na discrição de muitos, embora que também fosse considerado uma central de fofocas da cidade, principalmente, na área da política. Muitas mungangas ali acontecidas, muitos neurônios foram embora. Antigo bar. Nunca te louvaram, te louvo agora com essa crônica na lembrança dessa foto desvendada ao lado de seu dono, o velho Fuíba. 
Marcos Calaça, jornalista cultural (UFRN)

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