Texto
de Pedro Henrique Alves,Filósofo e
Colunista
do Instituto Liberal.
Admirem,
não adorem; batam palmas, mas não matem e nem morram por um nome numa urna”
Temos
muitos males políticos rondando a nossa era: o insolúvel caso de desumanismo na
Coréia do Norte, que chega ao nível do canibalismo; a mendiga e morta política
venezuelana; o povo cubano vivendo num presídio com muros d’água há mais de
seis décadas; o conflito enigmático e profundamente aporético em que
jaz a
Síria e o Oriente médio…
Enfrentamos,
também, sérios episódios de crises políticas que não são exatamente desastres
como nos exemplos anteriores, mas que mesmo assim não deixam de serem sérios. Como
a gangrena pútrida que descobrimos no seio brasileiro: a corrupção sistêmica na
Petrobras; a trincheira política em que Trump foi colocado pelos globalistas; a
crise econômica e política em que a União Europeia se afunda atualmente; a
infindável crise nuclear no Irã; a Rússia em recorrentes flertes de guerra, etc
Mas
venho tratar aqui de um mal que me parece estar entranhado especificamente em
nossa era de “política de facebook”. Uma doença que já alcançou os firmamentos
da política nacional e internacional, ou seja: a idolatria política, os
bezerros de ouro dos grandes capitólios e alvoradas. Falo dos fetiches das
multidões e dos militantes: o político imaculado, o populista.
É
patente ver o tratamento que a população está dispensando atualmente aos assuntos
políticos, transformaram as disputas republicanas em sensacionalismos e brigas
de torcidas.
Há
uma máxima na política moderna e contemporânea — máxima esta que aprendemos a
custo de sangue de muitos inocentes — , isto é: nunca é bom idolatrar um político
ou uma ideologia.
Quando
se busca o céu na terra, és o inferno o que vai encontrar.
Vivemos
num momento em que a crítica política transmutou-se em uma espécie de heresia
política. Se criticamos o Lula há um grupo que está de prontidão para martirizar-se
em busca de defendê-lo. Não para discutir ideias e argumentar inteligentemente,
mas sim para guerrear em favor de seu “deus”. Homens e mulheres que moram em
casas lajeadas, sem saneamento e, por vezes, desempregados, mas que mesmo assim
se dispõe a ir em frente à casa luxuosa do ex-presidente em São Bernardo para
fazer uma vigília diante do monte santo de seu deus; criticar o Bolsonaro
desencadeia um enxame de críticos igualmente ativistas e idólatras. Pessoas que
chegam ao nível de colocar “Bolsonaro” em seus nomes nas redes sociais, passam
horas por dia vendo seus vídeos e comprando brigas na internet para defendê-lo;
o mesmo ocorreu — e ocorre — com Dilma, Trump, Hillary, entre outros.
Não
peço que cada pessoa seja um estudioso de política e nem que que acreditem na
pachorra tola da imparcialidade. Não, eu também possuo meus candidatos
preferidos. Concordo mais com uns do que com outros, mas não os idolatro e nem
presto culto aos seus “santos” nomes. Prudência, a velha e boa recomendação de
Russel Kirk.
Em
certo sentido devemos sempre ser bons e moderados analistas políticos,
reconhecer a cadência da sensatez e da inteligência. Perceber que os ativismos
alienam, que Orwell não escreveu 1984entre lágrimas por um motivo tolo, que
Alexandre Soljnistein não correu risco de vida ao escrever Arquipélago Gulag,
na intenção de retratar o que as políticas de massa causam, à toa. O fez
justamente para mostrar onde findam as idolatrias à governos e governantes.
Certa
vez, numa avenida da minha cidade, acompanhei um debate pouco produtivo de um
eleitor de Aécio e outro de Dilma, ambos quase saíram no tapa e tiveram que ser
apartados. Neste momento uma velha senhora fez uma observação que somente a
prudência poderia formular: “Deus me livre do fanatismo dos burros”. Quão
sensata e magnifica seria esse conselho se ele pudesse agasalhar cada intelecto
atualmente.
Não
estou pedindo a vadiagem política ou a alienação de consciência; muito menos
estou pedindo para anularem suas opiniões. Apenas aconselho que ponderem e
revejam suas críticas. Não estou pedindo para não defenderem Trump ou Lula, se
suas consciências assim determinarem após uma boa ponderação e cerceamento de
inflames opiniões. Peço apenas que não sejam ativistas, é feio, é improdutivo e
reduz, certamente, a massa encefálica.
Devemos
nos voltar para nós mesmos e nos colocar no centro, manter o eixo e equilibrar
nossas esferas de ações e pensamentos. Deixe-me criticar Trump, deixe-me, ao
mesmo momento, criticar a política econômica de Meirelles e os discursos de
Dilma. Permita-me não concordar com Lula e muito menos com Temer. Por favor,
deixe-me concordar em partes com o Bolsonaro sem ser por isso um “bolsonete”.
Lutamos tanto por essa tal de democracia e republicanismo para no final
acabarmos como ditadores da opinião única?
Afaste
de mim, ó Deus, esse cálice pagão do culto diplomático.
Obviamente
que, se sou um liberal, não irei amar a política econômica socialista, e,
sinceramente, nem se espera isso; se sou conservador, não espere que eu bata
palmas para o relativismo cultural dos globalistas. Isto é ser minimamente
coerente, e ser coerente é uma predisposição dos sensatos.
Não
obstante, isso não quer dizer que eu tenha assinado alguma espécie e contrato
de exclusividade e de defesa unânime de uma pessoa ou visão. Se eu não guardar
a liberdade para criticar a oposição, mas, principalmente, para criticar a
minha própria visão política, eu serei tudo, menos verdadeiramente livre. Serei
apenas um fantoche do meu ego, ou pior, fantoche de alguma instituição ou
diretório.
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