RN - ESSA VIOLÊNCIA NÃO É NORMAL

Por *Heráclito Noé*

_Delegado de polícia do RN e professor de direito_

*ESSA VIOLENCIA NÃO É NORMAL*

Quando o governador do Rio Grande do Norte (esqueci o seu nome) teve o carro (blindado) roubado há poucos dias, disse que a ocorrência era um fato normal. 

Não é normal que a nossa terra fique ensopada com o sangue dos nossos conterrâneos sem que a gente tenha nenhuma esperança. 

Não foi normal a morte de *Alex França*.

Não é normal o desaparecimento da garota *Yasmin*, moradora da comunidade da África, na Redinha. 

Não foi normal a morte de *Gilmar*.

Não é normal a matança em série dos nossos abnegados e heroicos policiais.

Não é normal a morte da policial catarinense *Caroline Plescht* de apenas 32 anos, quando também foi ferido gravemente o seu companheiro, sargento da PM *Marcos Paulo da Cruz*... 

Não, isso não pode ser normal

Em todos os bares, em todas as ruas, em todos os lugares, em todos os bairros e horários a violência nos assusta. 

Não, isso não pode ser normal.

Quantos agora estão pranteando os seus entes queridos? Não, isso não pode ser normal

São Marias, Pedros, Marcelos, Fátimas, Augustos e Joaquins... não importa. São seres humanos que se foram, ceifados prematuramente. 

Como Delegado, diretor do Itep e professor de Direito Penal, lido com a questão da criminalidade há quatro décadas e nunca vi nada igual. Não, isso não pode ser normal.

Enquanto a maçaneta da porta não anuncia a chegada dos nossos filhos, não conseguimos dormir. Não, isso não pode ser normal.

O meu irmão e minha irmã foram vítimas, os meus vizinhos foram assaltados, amigos e parentes, todos tem uma história terrível para contar... não, isso não pode ser normal

Quando recebemos um amigo ou parente no Aeroporto durante a noite, os que ficam em casa não conseguem relaxar. Não, isso não pode ser normal.

Quando o horário dos cultos evangélicos, as sessões dos mais diversos matizes religiosos, as missas, novenas e casamentos tem que mudar os seus horários... não, isso não pode ser normal.

Quando as reuniões da Maçonaria, do Lions e Rotary tem sido alteradas por conta da violência... não, isso não pode ser normal.

Templos, praças, bancos, praias, sítios, fazendas, capital ou interior... não há lugar seguro para ninguém. Não, isso não pode ser normal. Nossa cidade pede socorro, não aguentamos mais.  

Há mais de 80 anos o dramaturgo e poeta alemão Bertolt Brecht, já dizia: Nós vos pedimos com insistência: nunca digam - Isso é natural! Diante dos acontecimentos de cada dia, numa época em que corre o sangue em que o arbitrário tem força de lei, em que a humanidade se desumaniza... Não digam nunca: Isso é natural a fim de que nada passe por imutável.

Enquanto morrem os nossos irmãos, os que deveriam nos dirigir estão totalmente voltados para as eleições deste ano. São composições, articulações, legendas, troca de partidos, acordos e conchavos visando tão somente alcançar o poder. E não pensem que o poder é um meio para proporcionar bem-estar para a população. É um fim em si mesmo. O benefício é para os eleitos e os seus parentes e apadrinhados. Vejam os sobrenomes da nossa política... são sempre os mesmos.

Encerro citando alguns versos da oração da maçaneta, de Gióia Jr: Não há mais bela música que o ruído da maçaneta da porta quando meu filho volta para casa. Volta da rua, da vasta noite, da madrugada de estranhas vozes, e o ruído da maçaneta, e o gemer do trinco. O bater da porta que novamente se fecha. O tilintar inconfundível do molho de chaves são um doce acalanto. Uma suave cantiga de ninar. Só assim fecho os olhos, posso afinal dormir e descansar. Que ele retorne sempre são e salvo Marinheiro depois da tempestade A sorrir e a cantar. E que na porta a maçaneta cante a festiva canção do seu retorno que soa para mim como suave cantiga de ninar. Só assim, só assim meu coração de aquieta... posso afinal dormir e descansar.

E que Deus nos proteja...