Ex-servidor da Prefeitura de Campina Grande é um dos criminosos mais perigosos da Paraíba e protagonizou fuga cinematográfica de presídio de segurança máxima em João Pessoa
De garoto nascido em uma família com fortes conexões políticas a assaltante no topo da lista dos fugitivos mais perigosos da Paraíba, Romário Gomes Silveira, 29 anos, o Romarinho, precisou apenas de uma madrugada para se tornar uma celebridade às avessas. Sua fama, até então restrita a policias e alguns jornalistas de Campina Grande, extrapolou as divisas estaduais na madrugada do dia 10 de setembro, após uma operação cinematográfica que o resgatou de uma cela na Penitenciária de Segurança Máxima Romeu Gonçalves Abrantes, o PB01, em João Pessoa.
Já na famosa fuga do PB1, Romarinho foi ejetado do cárcere por uma megaofensiva de comparsas fortemente armados com fuzis. Após resistir a mais de 30 minutos de rajadas incessantes, a equipe de guarda da penitenciária sucumbiu ao cerco e o portão principal foi posto abaixo com a ajuda de explosivos.
As imagens do circuito interno da unidade revelam que Romarinho foi o grande protagonista da maior ação criminosa recente da Paraíba; foi um dos primeiros a ter a cela liberada e recebe logo um fuzil dos parceiros. Gesticulando e orientando a todo instante, é dele o comando da operação que deixou um rastro de números negativos: 92 foragidos – mais da metade recapturados -, um policial militar morto, e mais de mil cartuchos de grosso calibre deflagrados no local.
Na ocasião, veículos da imprensa Brasil afora, a exemplo da versão nacional do jornal espanhol El País, que traçou um perfil do criminoso, voltaram as atenções ao território paraibano com uma pergunta engatilhada: como um ex-assessor político, que emergiu de uma família conhecida de líderes comunitários com laços políticos, se tornou um dos mais temidos assaltantes de bancos e carros-fortes do Nordeste?
A resposta não é tão simples, mas a busca por ela começa no bairro da Liberdade, na periferia de Campina Grande, onde Romarinho nasceu e foi criado. Seu nome virou tabu absoluto após o episódio de setembro e, por razões óbvias, arrancar uma mera entrevista sobre ele é algo penoso. Nenhum morador ousa tocar no assunto publicamente. “Não quero falar sobre isso. Não me ligue mais”, rejeita um amigo de infância, desligando o telefone durante uma ligação da reportagem.
Romarinho é filho da líder comunitária Maria do Rosário Gomes, conhecida no bairro como Neném da Liberdade. Foi através da influência materna que ele virou assessor comissionado da Prefeitura de Campina Grande, onde ganhava salário de R$ 2 mil para exercer função de “apoio administrativo” em um órgão ligado ao gabinete do prefeito Romero Rodrigues (PSDB). No papel de funcionário público, chegou a viajar a Brasília como representante da prefeitura com todas as despesas pagas pelos cofres municipais.
Tovar Lima, hoje deputado estadual reeleito, foi chefe de Romarinho em 2013, quando o parlamentar era secretário municipal e comandava Departamento de Apoio Administrativo (DAA), espécie braço municipal do gabinete do prefeito onde o assaltante batia ponto. “Mal lembro dele, fazia um trabalho mais burocrático. Eu não o conhecia e não tinha poder de nomear as pessoas que trabalhavam lá. Quem nomeava era o prefeito Romero. Mas ele não tem culpa. Não sabia quem era essa pessoa”, alega o parlamentar.
A vida dupla de Romarinho, intercalada entre o mundo do crime e os bastidores do poder, corria sem atropelos até fevereiro deste ano, quando foi preso pela Polícia Federal por participar, no mês anterior, de um assalto ao Shopping Partage, em Campina Grande. Uma investigação de agentes federais apontou que o grupo armado do assessor político explodiu caixas eletrônicos de um banco e arrombou uma joalheria.
A notícia reverberou como uma bomba nos corredores da prefeitura, que logo publicou a exoneração de Romário e divulgou uma nota oficial que tentava amortecer o impacto da prisão: “A exoneração do servidor não significa, necessariamente, uma condenação antecipada em relação a uma acusação a qual ele terá oportunidade de apresentar defesa e, se for o caso, demonstrar sua inocência. De fato, trata-se de uma medida administrativa sensata e de respeito aos princípios que regem a gestão, sob a luz da ética, honradez e comportamento exemplar”, apontava o comunicado.
Solto após uma audiência de custódia, Romarinho mergulhou os sete meses seguintes na linha de frente de uma organização especializada em assaltos a bancos e carros-fortes, cujo grau de atuação surpreendeu a polícia paraibana. Àquela altura, o ex-assessor político do bairro da Liberdade já era um soldado da linha de frente da quadrilha, conhecida por usar armas de grosso calibre, como a temida metralhadora ponto 50 , de altíssimo poder de fogo e uso restrito das Forças Armadas.
E o bom agora vai virar deus
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