Fotos:
Roberto de Oliveira/Folha Press
Menino
não veste azul e menina não veste rosa. Na verdade, em Tambaba, no sul da
Paraíba, ninguém veste nada. A praia de naturismo mais famosa do Brasil está em
via de tornar-se uma vitrine internacional da prática,
que, para além do
nudismo, preconiza o cultivo da vida saudável e o retorno à natureza.
O
espaço frequentado por turistas em trajes de banho deverá ser reincorporado ao
terreno naturista, uma antiga reivindicação de adeptos. A mudança será possível
graças a um decreto estadual que prevê a criação de uma Área de Especial
Interesse Turístico e Ecológico para a prática do naturismo em Tambaba.
Atualmente,
o acesso principal à área nudista passa pelo trecho ocupado pelos “têxteis”,
apelido pelo qual são conhecidos por lá os banhistas que ainda resistem a
abandonar sungas, maiôs e biquínis.
Quem
já aderiu à filosofia naturista terá, aproximadamente, mais 300 metros de faixa
de areia para curtir a praia nu, segundo Rose Barbosa, 61, presidente da Sonata
(Sociedade Naturista de Tambaba).
Ao
todo, a faixa destinada à prática do naturismo alcançará 800 metros.
Os
que ainda não se converteram à filosofia podem frequentar Tambaba, mas têm de
ficar no seu espaço. Para evitar confusão, existe uma separação entre os
banhistas. Uma passarela fechada por tapumes impede a visão do lado naturista,
portanto quem estiver vestido não consegue bisbilhotar o lado dos pelados.
A
tal passarela funciona como uma espécie de portal para outra galáxia, em que há
regras próprias a seguir. Se a atravessarem, os visitantes terão de aderir ao
“dress code”.
Logo
serão informados pela equipe de monitores da Sonata (devidamente despidos, mas
identificados com um colete verde) de que, a partir daquele ponto, só vai
entrar quem tirar toda a roupa.
De
acordo com o regulamento interno, não é permitida a entrada de homens
desacompanhados de mulheres, mas há alguns que conseguem burlar a norma,
adentrando o local seja pelo portão principal, seja pela mata.
A
professora paulistana Zuleika Fernandes de Mello, 51, disse que, em sua
primeira visita a Tambaba, a socialização na praia ocorreu de imediato. “Foi
uma experiência de estar em harmonia com o ambiente, que me trouxe uma sensação
de liberdade, respeito e amor ao corpo nunca antes vivenciada. Eu amei
Tambaba.”
Nem
tudo, porém, são flores. Há relatos de mulheres em grupos que foram assediadas
por homens.
A
presença de voyeurs, apelidados de “fresteiros” —assim chamados por tentarem
ver os nudistas pelas frestas dos galhos de árvores—, é uma dor de cabeça para
a entidade, porque nem sempre eles se limitam a observar.
Com
o decreto estadual e as mudanças estruturais propostas, os gestores pretendem
debruçar-se sobre essa questão e ampliar a segurança.
Uma
ideia é fazer passeios nas trilhas guiados por profissionais credenciados
(naturistas, é claro), ação que promete banir de vez os invasores e
intrometidos, como explica Carlos Santiago, 57, secretário da Sonata.
Os
naturistas têm uma filosofia de vida. Estar nu é parte de um modo de viver
pautado pela harmonia com a natureza. “A prática tem por intenção favorecer o
autorrespeito, o respeito pelo outro e o cuidado com o ambiente”, diz.
A
maioria dos frequentadores são famílias, com crianças e adolescentes, avós e
grupos de amigos, todos à procura de um lugar para curtir as delícias de uma
boa praia: estirar-se ao sol, caminhar pelo areal, jogar frescobol, futebol ou
vôlei, tomar um banho de mar.
Estão
nos planos de reformulação a ampliação da área e o incentivo à prática do
naturismo. O local do estacionamento (onde é obrigatório estar vestido) deverá
ser transformado em uma recepção, onde atendentes e palestrantes, devidamente
despidos, receberão os visitantes e explicarão o conceito de naturismo e suas
normas éticas.
Árvores
da mata atlântica serão catalogadas, e trilhas terão o acompanhamento de guias,
uma estratégia para divulgar o patrimônio natural.
“Queremos
transformar Tambaba em uma referência internacional, onde gente do mundo todo
poderá entrar em contato com a fauna e a flora em segurança, sem degradar o
ambiente”, diz Julíndio Macuxi, 52, representante do NU (Naturistas Unidos),
movimento criado para divulgar, socializar e fortalecer o naturismo por meio de
atividades esportivas, socioculturais e conservacionistas.
A
maioria dos naturistas é, na verdade, nudista, opina ele. “Somente uma vez por
mês, de fato, eles se tornam naturistas, ao entrarem em contato direto com a
natureza.”
E
natureza é o que não falta em Tambaba: uma faixa de areia fofa, com esculturas
de pedras à beira-mar. Na maré baixa, afloram piscinas naturais de águas quase
mornas. Falésias, mata atlântica, vegetação de restinga e coqueiros
complementam a paisagem.
Agora,
com a demarcação da área, vai haver investimento na infraestrutura: serão
construídos quiosques, uma pousada naturista com dez apartamentos e uma praça
de alimentação, obras que deverão ocupar uma área doada pelo setor imobiliário
como compensação ambiental.
Um
conselho gestor ganhou corpo. Conta com a participação de órgãos
governamentais, entidades, comerciantes e empresários.
Dona
da Pousada Aconchego, que fica na região, Rosângela Arantes Corrêa, 57, diz o seguinte:
“Do ponto de vista empresarial, sempre vi Tambaba como um ícone da Paraíba. Com
a ampliação da área naturista, fico mais otimista em alcançar um número maior
de frequentadores de forma organizada e sustentável”.
Para
Pedro Ribeiro, 60, presidente da FBrN (Federação Brasileira de Naturismo), no
passado foi retirada dos naturistas parte da praia porque “os vestidos se
sentiam incomodados com os nus”.
Na
opinião dele, a invasão de pessoas trajadas trouxe com ela ofertas comerciais
que impactaram o ambiente. “Uma das preocupações do naturismo é o cuidado
ambiental, que deve prevalecer sobre interesses comerciais”, afirma.
Ainda
não existe uma data para início das obras, se bem que a reformulação já venha
sendo implantada, segundo Ivan Burity, 57, secretário-executivo do Turismo da
Paraíba.
“Existe
um enorme potencial. Tambaba é mais conhecida no mundo do que muitos estados do
Nordeste”, diz. “Temos sol o ano inteiro. Com a repaginada e a requalificação,
vamos oferecer segurança jurídica para receber esse público específico,
inserindo Tambaba definitivamente nos roteiros naturistas internacionais.”
Desde
2010, os integrantes da Sonata mantêm discussões com o governo do estado para
transformar o local em um balneário internacional.
Hoje,
há estrangeiros por lá, mas eles são poucos. Faltam, sobretudo, os europeus, os
principais clientes mundiais e precursores da prática. A cultura do corpo livre
surgiu no final do século 19 na Alemanha, país que reúne cerca de 7 milhões de
adeptos; no mundo, eles somam 85 milhões.
Tambaba
é a praia mais conhecida do litoral sul da Paraíba, um dos trechos mais bonitos
da costa brasileira. Está localizada no município de Conde, a cerca de 40 km da
capital, João Pessoa.
Ela
começou a ser frequentada por naturistas no fim dos anos 1980, quando chegar
até lá era difícil. Em dias de chuva, sempre havia quem ficasse atolado nas
estradas de terra.
Justamente
por estar em um lugar repleto de belezas naturais, à época intocadas, e por ser
de difícil acesso, a praia foi escolhida pelos naturistas e se tornou seu
reduto.
Em
1996, com a conclusão da rodovia PB 008, que liga a capital ao litoral sul, a chegada
de banhistas aumentou e o local ganhou fama.
Amigos
contaram para amigos, que contaram para outros não tão amigos. Assim, a praia
caiu na boca do povo. Entre os curiosos e os moralistas, não faltaram
religiosos, políticos e moradores a se insurgirem contra os naturistas, que,
até hoje encarados por alguns como se fossem extraterrestres, são alvo de
comentários carregados de preconceito.
A
partir de 1991, o lugar passou a ostentar o título de primeira praia oficial de
naturismo do Nordeste. O estado da Paraíba só reconheceu o reduto naturista em
2002, a partir da criação da Área de Proteção Ambiental Tambaba.
Com
a estrada, veio o tal desenvolvimento. Casas de veraneio, pousadas, hotéis,
comércio e muitos curiosos. O crescimento desenfreado de loteamentos na região
vem avançando em direção ao território naturista desde 2005.
A
partir do decreto estadual de julho de 2018, que criou a Área de Especial
Interesse Turístico e Ecológico para a prática do naturismo em Tambaba, o que
se pretende é assegurar a vocação naturista em sintonia com o turismo e a
preservação do ambiente.
PACOTES
R$
554
4
noites, na New Age (newage.tur.br)
Em
João Pessoa, com café da manhã. Inclui visitas panorâmicas, city tour,
traslados e seguro-viagem. Valor por pessoa. Sem aéreo
R$
1.292
5
noites, na CVC (cvc.com.br)
Em
João Pessoa, com café da manhã. Inclui passeios à Ponta do Seixas e ao Farol do
Cabo Branco e traslados. Preço por pessoa. Com aéreo
R$
3.035
4
noites, na Maringá Turismo (maringalazer.com.br)
Em
Conde (cidade onde fica Tambaba), com regime de alimentação all-inclusive.
Valor por pessoa. Inclui passagens aéreas
Folha
de São Paulo
Não e da minha conta mais e nojento deve feder muito no Sol
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