quinta-feira, 28 de fevereiro de 2019

TAMBABA: Praia nudista na Paraíba cresce para entrar na rota internacional da prática


Fotos: Roberto de Oliveira/Folha Press

Menino não veste azul e menina não veste rosa. Na verdade, em Tambaba, no sul da Paraíba, ninguém veste nada. A praia de naturismo mais famosa do Brasil está em via de tornar-se uma vitrine internacional da prática,
que, para além do nudismo, preconiza o cultivo da vida saudável e o retorno à natureza.

O espaço frequentado por turistas em trajes de banho deverá ser reincorporado ao terreno naturista, uma antiga reivindicação de adeptos. A mudança será possível graças a um decreto estadual que prevê a criação de uma Área de Especial Interesse Turístico e Ecológico para a prática do naturismo em Tambaba.

Atualmente, o acesso principal à área nudista passa pelo trecho ocupado pelos “têxteis”, apelido pelo qual são conhecidos por lá os banhistas que ainda resistem a abandonar sungas, maiôs e biquínis.

Quem já aderiu à filosofia naturista terá, aproximadamente, mais 300 metros de faixa de areia para curtir a praia nu, segundo Rose Barbosa, 61, presidente da Sonata (Sociedade Naturista de Tambaba).

Ao todo, a faixa destinada à prática do naturismo alcançará 800 metros.

Os que ainda não se converteram à filosofia podem frequentar Tambaba, mas têm de ficar no seu espaço. Para evitar confusão, existe uma separação entre os banhistas. Uma passarela fechada por tapumes impede a visão do lado naturista, portanto quem estiver vestido não consegue bisbilhotar o lado dos pelados.

A tal passarela funciona como uma espécie de portal para outra galáxia, em que há regras próprias a seguir. Se a atravessarem, os visitantes terão de aderir ao “dress code”.

Logo serão informados pela equipe de monitores da Sonata (devidamente despidos, mas identificados com um colete verde) de que, a partir daquele ponto, só vai entrar quem tirar toda a roupa.

De acordo com o regulamento interno, não é permitida a entrada de homens desacompanhados de mulheres, mas há alguns que conseguem burlar a norma, adentrando o local seja pelo portão principal, seja pela mata.

A professora paulistana Zuleika Fernandes de Mello, 51, disse que, em sua primeira visita a Tambaba, a socialização na praia ocorreu de imediato. “Foi uma experiência de estar em harmonia com o ambiente, que me trouxe uma sensação de liberdade, respeito e amor ao corpo nunca antes vivenciada. Eu amei Tambaba.”

Nem tudo, porém, são flores. Há relatos de mulheres em grupos que foram assediadas por homens.
A presença de voyeurs, apelidados de “fresteiros” —assim chamados por tentarem ver os nudistas pelas frestas dos galhos de árvores—, é uma dor de cabeça para a entidade, porque nem sempre eles se limitam a observar.

Com o decreto estadual e as mudanças estruturais propostas, os gestores pretendem debruçar-se sobre essa questão e ampliar a segurança.

Uma ideia é fazer passeios nas trilhas guiados por profissionais credenciados (naturistas, é claro), ação que promete banir de vez os invasores e intrometidos, como explica Carlos Santiago, 57, secretário da Sonata.

Os naturistas têm uma filosofia de vida. Estar nu é parte de um modo de viver pautado pela harmonia com a natureza. “A prática tem por intenção favorecer o autorrespeito, o respeito pelo outro e o cuidado com o ambiente”, diz.

A maioria dos frequentadores são famílias, com crianças e adolescentes, avós e grupos de amigos, todos à procura de um lugar para curtir as delícias de uma boa praia: estirar-se ao sol, caminhar pelo areal, jogar frescobol, futebol ou vôlei, tomar um banho de mar.

Estão nos planos de reformulação a ampliação da área e o incentivo à prática do naturismo. O local do estacionamento (onde é obrigatório estar vestido) deverá ser transformado em uma recepção, onde atendentes e palestrantes, devidamente despidos, receberão os visitantes e explicarão o conceito de naturismo e suas normas éticas.

Árvores da mata atlântica serão catalogadas, e trilhas terão o acompanhamento de guias, uma estratégia para divulgar o patrimônio natural.

“Queremos transformar Tambaba em uma referência internacional, onde gente do mundo todo poderá entrar em contato com a fauna e a flora em segurança, sem degradar o ambiente”, diz Julíndio Macuxi, 52, representante do NU (Naturistas Unidos), movimento criado para divulgar, socializar e fortalecer o naturismo por meio de atividades esportivas, socioculturais e conservacionistas.

A maioria dos naturistas é, na verdade, nudista, opina ele. “Somente uma vez por mês, de fato, eles se tornam naturistas, ao entrarem em contato direto com a natureza.”

E natureza é o que não falta em Tambaba: uma faixa de areia fofa, com esculturas de pedras à beira-mar. Na maré baixa, afloram piscinas naturais de águas quase mornas. Falésias, mata atlântica, vegetação de restinga e coqueiros complementam a paisagem.

Agora, com a demarcação da área, vai haver investimento na infraestrutura: serão construídos quiosques, uma pousada naturista com dez apartamentos e uma praça de alimentação, obras que deverão ocupar uma área doada pelo setor imobiliário como compensação ambiental.

Um conselho gestor ganhou corpo. Conta com a participação de órgãos governamentais, entidades, comerciantes e empresários.

Dona da Pousada Aconchego, que fica na região, Rosângela Arantes Corrêa, 57, diz o seguinte: “Do ponto de vista empresarial, sempre vi Tambaba como um ícone da Paraíba. Com a ampliação da área naturista, fico mais otimista em alcançar um número maior de frequentadores de forma organizada e sustentável”.

Para Pedro Ribeiro, 60, presidente da FBrN (Federação Brasileira de Naturismo), no passado foi retirada dos naturistas parte da praia porque “os vestidos se sentiam incomodados com os nus”.

Na opinião dele, a invasão de pessoas trajadas trouxe com ela ofertas comerciais que impactaram o ambiente. “Uma das preocupações do naturismo é o cuidado ambiental, que deve prevalecer sobre interesses comerciais”, afirma.

Ainda não existe uma data para início das obras, se bem que a reformulação já venha sendo implantada, segundo Ivan Burity, 57, secretário-executivo do Turismo da Paraíba.

“Existe um enorme potencial. Tambaba é mais conhecida no mundo do que muitos estados do Nordeste”, diz. “Temos sol o ano inteiro. Com a repaginada e a requalificação, vamos oferecer segurança jurídica para receber esse público específico, inserindo Tambaba definitivamente nos roteiros naturistas internacionais.”

Desde 2010, os integrantes da Sonata mantêm discussões com o governo do estado para transformar o local em um balneário internacional.

Hoje, há estrangeiros por lá, mas eles são poucos. Faltam, sobretudo, os europeus, os principais clientes mundiais e precursores da prática. A cultura do corpo livre surgiu no final do século 19 na Alemanha, país que reúne cerca de 7 milhões de adeptos; no mundo, eles somam 85 milhões.

Tambaba é a praia mais conhecida do litoral sul da Paraíba, um dos trechos mais bonitos da costa brasileira. Está localizada no município de Conde, a cerca de 40 km da capital, João Pessoa.

Ela começou a ser frequentada por naturistas no fim dos anos 1980, quando chegar até lá era difícil. Em dias de chuva, sempre havia quem ficasse atolado nas estradas de terra.

Justamente por estar em um lugar repleto de belezas naturais, à época intocadas, e por ser de difícil acesso, a praia foi escolhida pelos naturistas e se tornou seu reduto.

Em 1996, com a conclusão da rodovia PB 008, que liga a capital ao litoral sul, a chegada de banhistas aumentou e o local ganhou fama.

Amigos contaram para amigos, que contaram para outros não tão amigos. Assim, a praia caiu na boca do povo. Entre os curiosos e os moralistas, não faltaram religiosos, políticos e moradores a se insurgirem contra os naturistas, que, até hoje encarados por alguns como se fossem extraterrestres, são alvo de comentários carregados de preconceito.

A partir de 1991, o lugar passou a ostentar o título de primeira praia oficial de naturismo do Nordeste. O estado da Paraíba só reconheceu o reduto naturista em 2002, a partir da criação da Área de Proteção Ambiental Tambaba.

Com a estrada, veio o tal desenvolvimento. Casas de veraneio, pousadas, hotéis, comércio e muitos curiosos. O crescimento desenfreado de loteamentos na região vem avançando em direção ao território naturista desde 2005.

A partir do decreto estadual de julho de 2018, que criou a Área de Especial Interesse Turístico e Ecológico para a prática do naturismo em Tambaba, o que se pretende é assegurar a vocação naturista em sintonia com o turismo e a preservação do ambiente.

PACOTES

R$ 554
4 noites, na New Age (newage.tur.br)
Em João Pessoa, com café da manhã. Inclui visitas panorâmicas, city tour, traslados e seguro-viagem. Valor por pessoa. Sem aéreo

R$ 1.292
5 noites, na CVC (cvc.com.br)
Em João Pessoa, com café da manhã. Inclui passeios à Ponta do Seixas e ao Farol do Cabo Branco e traslados. Preço por pessoa. Com aéreo

R$ 3.035
4 noites, na Maringá Turismo (maringalazer.com.br)
Em Conde (cidade onde fica Tambaba), com regime de alimentação all-inclusive. Valor por pessoa. Inclui passagens aéreas

Folha de São Paulo

Um comentário:

Os comentários serão avaliados antes de serem liberados

PRF apreende anfetamina com caminhoneiro em João Câmara

A Polícia Rodoviária Federal abordou, na última sexta-feira 17, em João Câmara, um motorista de caminhão e apreendeu uma cartela com 12 com...