Bolsonaro
assina decreto sobre posse, porte e importação de armas, no Palácio do
Planalto, na terça-feira (7) — Foto: Marcos Corrêa/PR
Um decreto do presidente Jair Bolsonaro publicado nesta quarta-feira (8)
facilita o porte de arma para um conjunto de profissões, como advogados,
caminhoneiros e políticos eleitos
– desde o presidente da República até os
vereadores.
O direito ao porte é a autorização para transportar a arma fora de casa.
O Estatuto do Desarmamento prevê que, para obtê-lo, é preciso ter 25
anos, comprovar capacidade técnica e psicológica para o uso de arma de fogo,
não ter antecedentes criminais nem estar respondendo a inquérito ou a processo
criminal e ter residência certa e ocupação lícita.
Além disso, é preciso comprovar “efetiva necessidade por exercício de
atividade profissional de risco ou de ameaça à sua integridade física”.
O
decreto de Bolsonaro altera esse último requisito, e afirma que a comprovação
de efetiva necessidade será entendida como cumprida para as seguintes pessoas:
instrutor de tiro ou armeiro credenciado pela Polícia Federal
colecionador ou caçador com Certificado de Registro de Arma de Fogo
expedido pelo Comando do Exército
agente público “, inclusive inativo,” da área de segurança pública, da
Agência Brasileira de Inteligência, da administração penitenciária, do sistema
socioeducativo, desde que lotado nas unidades de internação, que exerça
atividade com poder de polícia administrativa ou de correição em caráter
permanente, ou que pertença aos órgãos policiais das assembleias legislativas
dos Estados e da Câmara Legislativa do Distrito Federal;
detentor de mandato eletivo nos Poderes Executivo e Legislativo da
União, dos Estados, do Distrito Federal e dos Municípios, quando no exercício
do mandato;
advogado
oficial de justiça
dono de estabelecimento que comercialize armas de fogo ou de escolas de
tiro ou dirigente de clubes de tiro
residente em área rural
profissional da imprensa que atue na cobertura policial
conselheiro tutelar
agente de trânsito
motoristas de empresas e transportadores autônomos de cargas
funcionários de empresas de segurança privada e de transporte de valores
O decreto foi assinado por Bolsonaro na terça-feira, em cerimônia no
Palácio do Planalto. Na ocasião, ele mencionou que o decreto facilitaria o
porte de armas para caçadores, colecionadores e atiradores – conhecidos como
CACs – e não mencionou as demais categorias.
Além do porte, o texto altera as regras sobre importação de armas e
sobre o número de cartuchos que podem ser adquiridos por ano.
Na avaliação de Bruno Langeani, do Instituto Sou da Paz, o decreto de
Bolsonaro na prática libera de forma o porte de arma para as categorias
incluídas no texto, contornando a limitação imposta pela lei do Estatuto do
Desarmamento. Essa lei diz que o porte de armas é proibido no Brasil, exceto para
algumas categorias.
“O presidente está legislando por decreto. Há projetos de lei em
tramitação no Congresso para dar porte de armas para agente socioeducativo,
oficial de Justiça. Se esses projetos estão lá e não foram aprovados, como pode
o presidente, por decreto, passando por cima do Congresso, conceder porte de
armas para essas categorias?”, questiona.
Posse
foi facilitada em janeiro
Em janeiro, o presidente já havia facilitado o direito de posse, que é a
possibilidade de ter arma em casa.
Na prática, ele também eliminou a necessidade de comprovar a efetiva
necessidade, pois estabeleceu que esse requisito estaria cumprido por todos os
moradores de áreas rurais e para os que morassem em área urbana de estados com
índices anuais de mais de dez homicídios por cem mil habitantes, segundo dados
de 2016 apresentados no Atlas da Violência 2018. Todos os estados e o Distrito
Federal se encaixam nesse critério.
“Todo e qualquer cidadão e cidadã, em qualquer lugar do país, por conta
desse dispositivo, tem o direito de ir até uma delegacia de Polícia Federal,
levar os seus documentos, pedir autorização, adquirir a arma e poder ter a
respectiva posse“, declarou, na ocasião, o ministro da Casa Civil, Onyx
Lorenzoni.
Durante os 28 anos em que foi deputado federal, Bolsonaro se declarou a
favor da facilitação do acesso do cidadão a armas de fogo. Também se
manifestava frequentemente de maneira contrária ao Estatuto do Desarmamento.
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