Debruçada nas águas dum regato
A flor dizia em vão
A corrente, onde bela se mirava …
“Ai, não me peixes, não!
“Comigo fica ou leva-me contigo
“Dos mares à amplidão,
“Límpido ou turvo, te amarei constante
“Mas não me deixes, não!”
“Dos mares à amplidão,
“Límpido ou turvo, te amarei constante
“Mas não me deixes, não!”
E a corrente passava; novas águas
Após as outras vão;
E a flor sempre a dizer curva na fonte:
“Ai, não me deixes, —não!”
Após as outras vão;
E a flor sempre a dizer curva na fonte:
“Ai, não me deixes, —não!”
E das águas que fogem incessantes
A eterna sucessão
Dizia sempre a flor, e sempre embalde:
“Ai, não me deixes, não!”
A eterna sucessão
Dizia sempre a flor, e sempre embalde:
“Ai, não me deixes, não!”
Por fim desfalecida e a cor murchada,
Quase a lamber o chão,
Buscava inda a corrente por dizer-lhe
Que a não deixasse, não.
Quase a lamber o chão,
Buscava inda a corrente por dizer-lhe
Que a não deixasse, não.
A corrente impiedosa a flor enleia,
Leva-a do seu torrão;
A afundar-se dizia a pobrezinha:
“Não me deixaste, não!”
– Gonçalves Dias, no livro “Cantos”. Série ‘Novos cantos’. 1857.
Leva-a do seu torrão;
A afundar-se dizia a pobrezinha:
“Não me deixaste, não!”
– Gonçalves Dias, no livro “Cantos”. Série ‘Novos cantos’. 1857.
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