terça-feira, 20 de setembro de 2022

O efeito Meirelles e as chances de ele voltar a ser ministro da Fazenda em um eventual governo Lula



A presença do ex-ministro da Fazenda Henrique Meirelles (União Brasil) no ato de ex-candidatos a presidente da República em apoio a Lula, em São Paulo, desencadeou uma série de especulações.

O mercado financeiro reagiu derrubando a cotação do dólar a R$ 5,16, baseado na interpretação de que Meirelles pode voltar a ocupar o ministério num eventual governo Lula.

Outra razão para otimismo foi a ideia de que, por ter sido o criador do teto de gastos quando foi ministro da Fazenda de Michel Temer, sua presença seria um sinal de que Lula estaria disposto a manter a disciplina fiscal – maior preocupação da Faria Lima hoje em relação ao petista.

Para um banqueiro que tem conversas frequentes com Lula, porém, o único sinal concreto dado por Meirelles com sua presença é o de que ele quer muito ir para o governo Lula. Ou, como disse outro financista próximo dos petistas, "entregou currículo" no ato de apoio.

Ontem mesmo, o ex-ministro já aceitou participar de um encontro promovido pela XP com investidores na manhã desta terça-feira. Em geral, ele demora mais para responder a esse tipo de convite.

Só que, segundo os dois financistas próximos à campanha do PT com quem conversei, nem Meirelles está no rol de possibilidades de Lula e nem o teto fiscal será mantido como está.

"Isso (a reação do mercado) é coisa de uma garotada afoita que só quer saber o que precisa comprar e vender no dia seguinte", diz um deles, que logo após o evento colheu a impressão de aliados próximos de Lula sobre Meirelles. "Se ele tivesse chance mesmo, não estaria ali se expondo", analisou o banqueiro.

O que os interlocutores dos petistas ouviram do próprio Lula, do deputado federal Alexandre Padilha e de outros aliados nos últimos tempos é que o ex-presidente está convencido de que seu próximo titular na Fazenda deve ser um político, alguém com capacidade de articular a aprovação de medidas difíceis no Congresso Nacional.

A escolha de Lula, porém, vai depender muito do resultado da eleição para o governo de São Paulo. Isso porque, embora a vitória de Fernando Haddad seja "prioridade zero" para Lula, se Haddad perder e Lula ganhar, ele certamente terá um lugar no ministério do petista – mesmo que não seja a Fazenda. "Com Haddad, o ministério é um. Sem Haddad, é outro".

Outra questão que ainda permanece indefinida é o tamanho e o formato da âncora fiscal a ser criada em um possível governo Lula.

Embora o ex-presidente tenha afirmado diversas vezes que não vai manter o teto de gastos, os petistas também estão convictos de que é preciso ter algum tipo de âncora fiscal.

O que eles estão buscando agora é uma fórmula que ao mesmo tempo siga o desejo de Lula e, por outro lado, passe uma mensagem ao mercado financeiro de que um eventual governo do PT respeitará alguns limites de gastos.

Que tipo de âncora seria essa ainda está em discussão, e para isso os aliados de Lula tem feito uma série de conversas com integrantes do mercado financeiro e do próprio governo federal. A ideia é entender qual o tamanho do rombo a ser deixado pelo governo Bolsonaro, para elaborar uma solução factível.


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