Nunca mais veremos filme no cinema paroquial, na técnica seu Caldas e, no comando, o padre Antas;
Não voltaremos a comer piabas no açude de Odilon. A implacabilidade do tempo acabou com esse pequeno reservatório da água das chuvas;
Nunca mais voltaremos a alugar bicicletas e devolvê-las com o pneu furado, além de chegar em casa todo arranhado;
Nunca mais iremos ouvir o grito estratégico de Zé Doninha, bá;
Não, não voltaremos a ter medo de papafigo, que na infância era uma jogada de nossas mães para não sairmos à noite;
Nunca mais veremos, de longe, papangu mascarado saindo do hotel de Chico Travessa;
Mais nunca iremos tomar banho no moinho, próximo ao campo do Flamengo, com filas imensas aos domingos controladas por Zezinho de Zuza;
Não ouviremos mais a voz de Chico Locutor que na divulgadora municipal tinha uma programação matutina;
Não voltaremos mais a ouvir os lamentos amorosos do grande telegrafista Luís Peninha, chorando bêbado e cantando 'Maria Helena és tu...';
Nunca mais iremos ver Manoel Palheta gritando 'gelé de coco';
Não voltaremos mais a brincar de bandeirinha e capitão de tropa na antiga pracinha, em frente ao Country Club;
Mais nunca iremos brincar no parque Santa Terezinha, que todo ano era presença certa no natal e ano novo no nosso torrão;
Nunca mais escutaremos esse mesmo parque anunciar no sistema de som uma música que começava assim:' Essa linda página musical vai com muito amor e carinho para um alguém eternamente apaixonado por...';
Não, não voltaremos a jogar bola na 'Porcolândia', hoje está em seu lugar a Escola Josefa Sampaio;
Não voltaremos a ver João Ferreira e Gerson, amigos inseparáveis, bêbados e brincando carnaval numa carroça puxada por um jumento, uma verdadeira tradição momesca por vários anos, por esses 'irmãos;
Nunca mais iremos ver o clássico Flamengo e Vasco, com casa cheia, parando toda a cidade no domingo num radicalismo que disputava a hegemonia pelo campeonato pedroavelinense.
Marcos Calaça, jornalista (UFRN)
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