segunda-feira, 16 de abril de 2012

A seca paira nos horizontes do sertão potiguar



Já se passou o natal e o ano novo, já se foi carnaval, o dia de São José já passou, e as chuvas não veio para molhar as terras do meu tórrido sertão. Todo dia olho para o céu, e nada, o máximo que vejo é a ilusão de nuvens carregadas, que se desfazem com o vento, misturado com relâmpago e trovões.

Os que não são nordestinos devem pensar... lá vem estes flagelados de novo, será que este povo nunca vai aprender? Não tiro a razão de quem pensar assim, afinal, esta história já foi contada muitas vezes. Nós colhemos as consequências das escolhas que fizemos e que fazemos.
O maior problema não é a falta de chuvas regulares, é como se ter água para utilizar regularmente. E ter água para se utilizar regularmente não é tarefa de um produtor rural, é tarefa de uma sociedade.
Como um único produtor pode fazer previsões meteorológicas? Estas previsões podem nos ajudar a fazer planejamento. E o que tivemos este ano? A EMPARN (que agora se cala) afirmando que teríamos uma estação chuvosa NORMAL. Como não acreditar nestes doutores, que estudaram e usam satélites e computadores poderosos?
Enquanto os agricultores e pecuaristas se descabelam em busca de salvar suas próprias vidas, das suas lavouras, e dos seus animais, os governos se omitem, e as pessoas que moram nas cidades ignoram.
Afinal a globalização permite que enquanto o gado morre de fome nas caatingas o bife continue sendo servido nas mesas das cidades; enquanto as vacas e seus bezerros morrem de fome no campo, o leite continua sendo servido normalmente nos iogurtes, cremes de leite, sorvetes, sucos, bolos, milk-shakes, bebidas lácteas, manteigas, requeijões, queijos; enquanto as lavouras e agricultores estorricam nos roçados o feijão, arroz, milho, batata, mandioca, não estão faltando nas mesas dos urbanos. Quem manda viver e produzir no campo?
Enquanto os produtores franceses são pagos pela sociedade para se manter produzindo no campo, os nordestinos do campo não tem as bacias dos rios interligadas, permitindo a perenizarão dos rios secos; não tem poços profundos permitindo que se faça irrigação de seus pastos e lavouras; a concessão dos créditos bancários é lento, burocrático e acessível a poucos; a assistência técnica, inexiste ou é precária; a energia elétrica é cara e requer grandes investimentos para instalar.....
Até quando a globalização vai maquiar estas mazelas no campo? Até quando vai sobrar dinheiro público para a corrupção e faltar para os investimentos que só a sociedade pode bancar? Até quando teremos governos inoperantes, incompetentes, perdulários em propagandas e mesquinhos em ações estruturantes e sustentáveis? Até quando... vamos aguentar?
Por enquanto, aparentemente, estes são problemas apenas dos que produzem no campo, mas, tenham certeza, no futuro serão problemas de todos nós!
Fonte: Herminio Brito

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