quinta-feira, 19 de julho de 2012

Estão forjando um Collor para Natal

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NATAL, quinta-feira 19 de julho de 2.012                 Enquanto os meios de comunicação divulgavam, cada um à sua maneira e nenhum mostrando maior zelo pelo interesse público, os resultados da mais recente, a sexta e última, pesquisa sobre a sucessão municipal em curso em Natal, e grupos políticos se dividiam entre os que exultavam e os que resmungavam, uma observação feita pelo jornalista Vicente Serejo, colunista do vespertino impresso "O Jornal de Hoje", impunha a necessidade de examinar esse tipo de sondagem não como instrumento de aferição, e sim como alavanca de indução em propaganda.
Do alto de sua experiência profissional, Serejo criticou o comando regional do PSDB porque anunciou a vontade de questionar na justiça os resultados da imediatamente anterior pesquisa sobre o pleito em Natal divulgada nesta capital, uma que o instituto Certus assinou no último domingo no matutino impresso "Tribuna do Norte", porque lhe cheirou a fraude. Serejo diz que resultado de pesquisa não se contesta, se contorna, e cita um exemplo de candidato que se viu achatado numa delas, com apenas 3% das intenções de votos para Governador. O economista Geraldo Melo leu e interpretou os números, pilotou uma das mais bem feitas campanhas eleitorais do Rio Grande do Norte e, como lembra o periodista, foi quem tomou posse. Vários anos e a pouquíssimas semanas da votação, idêntica desvantagem chocou a família do então prefeito Raimundo Marciano, candidato à reeleição em Parnamirim. Diante do diretor do instituto de pesquisa, ele se levantou, arregaçou as mangas da camisa e saiu dizendo que era hora de reverter a situação. Seu concorrente não foi à posse de Marciano.
Há uma lição inegável na observação de Serejo, mas o tema permite outras abordagens, principalmente quanto ao uso e à divulgação de resultados de pesquisa como alavanca de popularidade e votos. Muitos políticos que ainda procuram mostrar indiferença quanto à sucessão da jornalista e artista Micarla de Souza na prefeitura de Natal deploram que, salvo as de periodicidade regular anunciada com antecedência, a exemplo das seis promovidas pelo Sindicato da Indústria da Construção (Sinduscon), as pesquisas eleitorais em Natal têm sido promovidas de acordo com calendários de interesses de determinadas candidaturas.
Ao término da eleição de 2.010, ninguém em Natal se lembrava do advogado, ex-prefeito e ex-deputado Carlos Eduardo Alves, lanterninha na disputa pelo governo do Estado, como nome para a sucessão de Micarla. É verdade que antes desse período ele já encarnava o anti-Micarla, a sucessora que rejeitou; no entanto, Carlos Eduardo só passou a surfar no alto da "preferência popular" depois que o matutino impresso "Tribuna do Norte", orientado politicamente por seu pai, o jornalista e político Agnelo Alves, deputado estadual pelo PDT, passou a publicar pesquisas em que o instituto Certus sempre o mostrou, crescentemente, na liderança dessa corrida.
Repetiu-se na ocasião uma manobra atrás da qual Agnelo agiu em 2.003 para a criação de um personagem político com o nome de Micarla de Souza, então repórter e diretora da TV Ponta Negra. Urgia então criar um candidato a vice-prefeito que não fizesse sombra ao burgomestre, e o pai deste não queria, em especial, alguém com os sobrenomes Alves, Maia ou Faria, que poderiam a qualquer momento indicar mancebos com ares de vitória conquistados com mandatos parlamentares dois anos antes.
Do nada, então, através de uma "pesquisa", Micarla surgiu como nome muito forte para a sucessão de Carlos Eduardo, e a ação de Agnelo nos bastidores a transformou em nome para nada, ou pouco mais do que isso - afinal, ela foi eleita somente vice-prefeita ao lado do então burgomestre.
Não escapa a muita gente, entretanto, o fato de outro episódio estar sendo repetido na estratégia de utilização de pesquisas eleitorais estrategicamente divulgadas por quem possui meios de comunicação bafejados por grande audiência ou vendagem, no caso os sucessores do legendário político e jornalista Aluizio Alves, irmão de Agnelo e tio de Carlos Eduardo. É que estão forjando em Natal a recriação do candidato à presidência da república Fernando Collor de Melo - e não me refiro às semelhanças entre o palavrório e as atidudes deste e de Carlos Eduardo Alves.  Isto assusta os marqueteiros que o assistem, que já pediram ao prefeitável para se curar da incontinência verbal a fim de não colar em sua imagem o bordão "Cala boca Magda!" que, pela voz de Miguel Falabella, durante muito tempo animou programa humorístico da rede Globo de televisão.
Trata-se da fabricação, a partir de um jantar em Pequim, na China, no final dos anos oitenta, do atual Fernando Collor de Melo (PTB), então governador de Alagoas, em futuro presidente da república. Reunindo quatro comensais de dois estados - Alagoas e Minas Gerais - e capacidade de influenciar os principais grupos de comunicação social do país, um deles a Rede Globo de Televisão, o jantar foi o ponto de partida para a invenção de um dos maiores blefes já amargados pelo país, o do "Caçador de Marajás".
Pesquisas vetorizadas em função deste projeto e divulgadas massiva e sucessivamente em função da determinação de conduzir Collor à presidência criaram antes da temporada eleitoral propriamente dita uma situação sem igual. O rolo compressor por cima de corações e mentes foi tamanho que destruiu o mais potente naipe de políticos que sobraram ao país depois das degolas de 1.964, 1.969 e 1.977, de Ulysses Guimarães a Aureliano Chaves, passando por Mário Covas, Leonel Brizola e outras grandezas nacionais da redemocratização, mais a força da militância do PT.
Deu no que deu.
Hoje, um conluio espontâneo ou forjado de estrategistas e comunicadores projetam coisa semelhante para Natal. Por coincidência, porém, todas as que começaram a empinar o nome de Carlos Eduardo foram feitas desde logo depois das urnas de 2.010 pelo Certus, sempre o instituto para pesquisas eleitorais preferido de Agnelo, e divulgadas em "Tribuna do Norte", periódico politicamente encalacrado em situação complexa. De direito, sua editora é controlada pelo deputado federal Henrique Eduardo Alves, o presidente regional do PMDB e, justiça se lhe faça, desde o princípio o grande padrinho da candidatura do deputado estadual Hermano Morais pela sua agremiação. Consta ancestralmente em Natal que, no que depender de Henrique Eduardo, seu primo Carlos não terá sucesso. Não é a mesma coisa, porém, quando entra em jogo a pressão familiar para não criar desavenças com o tio Agnelo, que desembarcou anteontem em seu octogésimo aniversário.
Este processo precisa ser considerado a partir, também, de atitudes de familiares em relação a Carlos Eduardo. Em diversos momentos, ele fez circular em Natal a informação de que Henrique Eduardo e o ministro da Previdência Social, senador Garibaldi Alves Filho (PMDB), também sobrinho de Agnelo e, portanto, seu primo, o haviam convidado para retornar ao partido controlado pela família e a se transformar no candidato desta à sucessão de Micarla. Henrique Eduardo ainda tentou mostrar que não partiria dele esta iniciativa, mas Garibaldi Filho alimentou a onda. Quando alguns problemas afetaram Carlos Eduardo, os dois o ajudaram, ou, pelo menos, não fizeram questão de mostrar que não quiseram emprestar-lhe ajuda. O último desses episódios foi a votação da prestação de contas da gestão de Carlos Eduardo pela câmara municipal. Na semana passada, enfim, Garibaldi Filho confirmou à sua maneira a dubiedade com que contribuiu para a consolidação atual da candidatura do primo, ao dizer que só depois de este apensar a ex-governadora Wilma de Faria à sua chapa majoritária os bacuraus começavam a deixar de encará-lo como o nome de sua preferência para a sucessão de Micarla.
Não fosse o apoio implícito do periódico familiar à candidatura de Carlos Eduardo, ele não teria conquistado logo no início de 2.011 a liderança numa corrida sem concorrentes desde então pela prefeitura. Do contrário, não seria assim abissal a distância que o separa dos demais, todos transformado em pessoas igualíssimas que nem japoneses aos olhos de ocidentais.
Conduzidas com inteligência e à sombra da incapacidade que fiscais da lei eleitoral demonstraram de enxergar o ovo da serpente, e principalmente divulgadas para forjar um mito paroquial, estas sondagens contém revelações que estupidamente nunca foram valorizadas à altura pelos meios de comunicação - e por este detalhe não podem jamais ser consideradas simplesmente mentirosas ou desonestas.
De fato, as pesquisas insistem em mostrar que mais de 50% dos natalenses não têm candidato a prefeito, mas ao noticiar seus resultados os jornais priorizam o fato de Carlos Eduardo estar na frente ou continuar liderando. Para piorar, tratam a pesquisa do dia como definidora, bastante, sem relativizar os números. Se procurassem cotejar os números, talvez mostrassem outros fatos que mereceriam destaque. No último domingo, ao ler os resultados da última pesquisa do Certus, em Caiçara do Rio do Vento, cotejei a preferência declarada em benefício de Carlos Eduardo com a aferida em levantamento feito poucos dias antes pelo mesmo instituto, e constatei que a maior revelação da sequencia é uma queda.
Sim, as intenções de voto no candidato do PDT caíram 3,9% entre as duas mais recentes pesquisas feitas em Natal pelo Certus, assim como a diferença entre a deputada estadual Larissa Rosado (PSB) e a vereadora Cláudia Regina Azevedo (Dem) caiu de 20% para 12% em levantamentos promovidos e divulgados ali com a mesma assinatura.
Está claro, ou não, que a manipulação está forjando a repetição do fenômeno Collor, na escala municipal, em Natal?

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