domingo, 30 de junho de 2013

Carreira no lixo

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Felipe Gurgel - Repórter
O que leva uma jovem promessa do futebol largar tudo e abandonar o clube em que joga? È o que anda se perguntando os torcedores de ABC e América, nos casos do meio campo Índio Oliveira, do alvirrubro e do atacante Romarinho, do alvinegro. No primeiro caso, o jovem jogador americano teve uma carreira meteórica. Em 2011, chegou ao clube para um período de testes no sub-20, depois da aprovação do diretor de futebol, Carlos Moura Dourado. O técnico, naquela ocasião, era Flávio Araújo e, depois de acompanhar um treino das categorias de base, chamou Oliveira para participar de alguns treinos entre os profissionais. Com a saída de Araújo, no início de 2012 e a chegada de Roberto Fernandes, atual treinador rubro, o garoto perdeu espaço.

Mas, nessa temporada, recebeu a grande chance: se firmou entre os titulares e foi importante para que o América chegasse até a final do campeonato potiguar, marcando gols decisivos, como os dois diante do Alecrim, na última rodada da segunda fase e também na decisão do campeonato, perdido para o Potiguar de Mossoró, nos pênaltis.

Magnus NascimentoÍndio Oliveira deixou o América e retornou para Rondônia sem avisar a direção do clubeÍndio Oliveira deixou o América e retornou para Rondônia sem avisar a direção do clube
 Mas, se dentro de campo as coisas pareciam caminhar para um futuro promissor, fora das quatro linhas os problemas disciplinares de Índio Oliveira se acumulavam: falta aos treinos, pouca disposição durante os treinamentos e, o estopim para toda briga atual: abandonou o clube e retornou a sua cidade Natal, Guajará-Mirim, em Rondônia. Antes disso, ele tinha sido devolvido ao sub-20, pelo excesso de problemas disciplinares no elenco profissional.

A decisão do jogador pegou todos do América de surpresa, principalmente o gerente de futebol, Carlos Moura. “Foi uma tremenda coincidência. Eu estava no aeroporto com Paulinho Freire, quando vimos o Índio Oliveira na sala de embarque. Perguntei o que estava acontecendo e ele me disse que tinha pedido dispensa para resolver problemas particulares em casa. Até agora, ainda não se reapresentou”, revela Moura. O encontro aconteceu no dia 21 de junho e era para ele ter se reapresentado no último dia 24.

O técnico Roberto Fernandes também se mostrou surpreso com a decisão do jogador em deixar o clube sem avisar e aconselha a jovem promessa. “Ele está perdido. É um jogador que tem qualidade e estava treinando entre os profissionais. Espero que ele pense sobre o que quer da vida para conseguir recuperar esse tempo”, disse Fernandes.

O jogador explicou a situação, disse que estava sem ver sua mãe desde o início do ano passado e que a saudade falou mais alto. Reconheceu o erro de não ter avisado ao clube, mas, afirmou que se apresenta na próxima quarta-feira. Resta saber se, depois desse “sumiço”, o América ainda conta com o jogador para o restante da temporada.

O presidente do América, Alex Padang, afirmou que, quando o jogador retornar, quem vai resolver a situação é o diretor de futebol Carlos Moura Dourado, encarregado de definir o futuro de Índio Oliveira no clube.

Já o caso de Romarinho, no ABC, é diferente de Índio Oliveira. O jogador alvinegro fez fama depois que um vídeo seu, em um jogo contra o América, pelo estadual sub-17 da temporada passada, virou sensação entre a torcida. No vídeo, Romarinho faz gols e jogadas que empolgam qualquer torcedor. Prevendo um assédio forte de empresários, a direção abecedista decidiu assinar contrato profissional com o atleta, para não perder a jovem promessa precocemente. Se na internet o atacante se mostrava uma grande promessa, entre os profissionais o desempenho não foi dos melhores. Mas, os problemas extra-campo, assim como Índio Oliveira, se acumulavam.

Romarinho faltava aos treinos, não se empenhava nas atividades. No início da temporada, o então técnico do ABC, Givanildo Oliveira, conversou com Erandyr Montenegro, responsável pelas categorias de base do clube, para saber sobre a situação do atacante. “O Givanildo veio me perguntar e disse que queria utilizar o Romarinho. E eu disse que ele podia usar o garoto, que era acima da média. Mas, não sei o que aconteceu, não sei o que ele pensa para a vida dele, que não quer nada com o futebol. Não tem postura de profissional e mostra que não soube aproveitar a chance que teve nas mãos”, revela Montenegro.

Assim como Índio Oliveira, Romarinho deixou o clube há duas semanas, afirmando que precisava resolver problemas familiares em Ceará-Mirim, cidade onde mora sua família e até o momento não se apresentou. “Não tenho mais pena do Romarinho. Ele nunca vai poder dizer que o ABC virou as costas para ele. O que aconteceu foi, justamente, o contrário. Tenho pena é da mãe dele, que olha para o filho como se fosse a sua última chance de redenção na vida. Isso que me deixa triste”, afirma Erandyr.

Técnicos afirmam que tentaram ajudar os jovens

Com o “sumiço” dos dois jogadores, tanto ABC, quanto América trataram de dar explicações aos seus torcedores. No caso abecedista, Erandyr Montenegro afirmou que o clube tentou de todas as formas recuperar Romarinho, mas, que por decisão do próprio atleta, isso para ser impossível no atual momento. “Tudo que poderia ser feito pelo clube, foi feito. Demos apoio psicológico, financeiro, mas o Romarinho não fez por onde ou não quer mesmo nada com o futebol. Givanildo Oliveira pensou em até alugar um apartamento perto do Frasqueirão, para facilitar a vida dele, mas, nem isso ele quis. Preferia pagar táxi de Ceará-Mirim para vir treinar. Só por isso a gente nota como ele não estava preocupado com o futuro”, revela Montenegro.

O mesmo pode se dizer de Índio Oliveira. De acordo com Severo Júnior, atualmente auxiliar de Roberto Fernandes na equipe principal, mas, que até a temporada passada estava envolvido com as bases americanas, não foi por falta de conversa com Índio Oliveira deixou o clube. E também, nem por questões financeiras. “Sempre conversei com o Índio, mostrando que ele tinha potencial, que poderia ser negociado, caso fizesse uma boa série B. Além disso, o clube disponibilizou psicólogos para o atleta. Ele nunca deu trabalho, mas, também nunca se portou como profissional. E, pelo que eu saiba, o reajuste salarial dele não seria dado apenas pelo desempenho dentro de campo e sim, pelo comportamento extra-campo. Por isso que ele reclama o aumento salarial, sem fazer o que foi combinado”, finaliza Dias.

Psicólogo dá conselhos aos jogadores

A postura de Índio Oliveira e Romarinho não são exceções no mundo do futebol. De acordo com o psicólogo Émerson Soares, que trabalha diretamente com psicologia esportiva, vários fatores contribuem para que jovens como eles, que tem um futuro brilhante pela frente, decidam abandonar o esporte. Mas, segundo Soares, o principal fator que pode atrapalhar a carreira de um jogador que está iniciando no profissionalismo são promessas falsas. “O que podemos ver, nos casos de Índio Oliveira e Romarinho, é que existem pessoas mexendo com a cabeça deles. São promessas de fama e dinheiro, que nem sempre são cumpridas. Isso acaba mexendo com o psicológico dos atletas, que, por serem jovens e de classes menos favorecidas da sociedade, acabam acreditando nessas promessas, já que sonham em dar uma vida melhor para seus familiares”, revela o psicólogo.

O fato de não poder mais jogar futebol ou não alcançar o sonho desejado, atrapalha a vida de jovens promessas, como o meia atacante Gabriel e o meio campo Rodriguinho, ambos do ABC, que não conseguiram o reconhecimento dos torcedores e tiveram que deixar o clube para conseguir o sucesso em outro estado. O caso mais emblemático é o de Rodriguinho. Ele surgiu como grande promessa, mas, depois de problemas extra campo e críticas da torcida, abandonou o futebol e foi jogar futsal. Depois, retornou aos gramados, mas, longe de Natal. Primeiro, no Bragantino/SP e desde 2011 defende o América/MG, onde é o camisa 10.

O lateral Eduardo Igor, de 26 anos, com passagens pelo América e Alecrim, por problemas médicos, acabou deixando o futebol e, logo em seguida, acabou perdendo a vida sem conseguir realizar seu sonho, que era dar uma condição de vida melhor para sua mãe. “Infelizmente, os adolescentes só pensam no futebol e nada mais. Seria interessante e importante que eles pudessem continuar os estudos para que, caso não conseguissem seguir no esporte, tivessem outra ocupação, para evitar problemas no futuro”, afirma Émerson Soares.

“O Neymar tem todo um staff para cuidar da carreira. O pai dele gerencia tudo, impedindo que o filho seja enganado. Aqui, o que se vê é justamento o contrário”, finalizou.

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