segunda-feira, 31 de agosto de 2015

ENTREVISTA COM EUDES DE FREITAS

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O presidente da Unimed Brasil Eudes de Freitas Aquino foi indicado como uma das 100 pessoas mais influentes do Brasil. Título que ele diz não valorizar e quando questionado sobre isso reage com simplicidade: “Você é chamado para palestras, eventos. Isso tem repercussão. E isso termina lhe deixando meio midiático. Não sei se está havendo carência de nome. Mas eu não valorizo isso”, destacou.
DivulgaçãoMédico Eudes de Freitas Aquino é o entrevistado do 3 por 4Médico Eudes de Freitas Aquino é o entrevistado do 3 por 4

O médico e gestor, potiguar da cidade de Pau dos Ferros, é uma daquelas pessoas de fácil conversa. Responde a todas as perguntas de forma direta e seu comunicar lhe traz argumentação firme, com números e críticas diretas.

Nessa entrevista ele avalia a situação dos planos de saúde, lamenta a judicialização dos processos e avalia o momento da própria Unimed.

Confira o nosso 3 por 4 de hoje:

O que está ocorrendo com os planos de saúde? Na visão da população são caros e não oferecem um serviço diferenciado do ponto de vista qualitativo e rapidez.
A resposta é multifatorial. O mais importante é a cultura do brasileiro. O brasileiro, e há indicadores estatísticos mentalizados, tem uma facilidade muito grande de acionar a Justiça. A gente acha muito importante porque isso é um direito de cidadania. Mas há uma abuso nas demandas judiciais na área de saúde, especificamente nos planos privados. E isso ocorre por uma razão muito simples: as pessoas fazem um contrato com regras claras, previamente avisadas, pactuadas e, dessa forma, adquirem um plano de saúde. Pagam mensalmente por isso. E em uma determinada hora surge o chamado momento da verdade, que é quando a pessoa precisa da assistência médica, busca e espera encontrar o que está na letra contratual. Quando isso ocorre, na grande maioria dos casos, vai tudo muito bem. Agora quando o paciente, induzido pelo médico muitas vezes, ou as vezes induzido por programas sensacionalistas, ele busca algo que não tem amparo contratual. Aí o momento da verdade fica prejudicado. O paciente tem um misto de frustração, decepção, dentro do sentido de que pagou, escolheu e não tem direito. A partir disso ele aciona a Justiça. Aquilo não está no contrato, o que não está no contrato não é devido. Mas isso é o que menos importa para o cliente. Existem advogados que estão se especializando nesse tipo de indução a batalha jurídica. Eles encaminham aquilo em caráter liminar, os juízes, por sua vez, não estão preparados para lidar com a questão saúde. Eles (os juízes) também esquecem, nesse momento, aquilo que está expresso no contrato. E aí o juiz concede em caráter liminar, aquilo vai a julgamento definitivo de forma muito lentamente e quando se conclui, na maioria das vezes, o direito da operadora de saúde é restaurado, mas ela não tem de quem se ressarcir. 

Os planos de saúde estão sequelados financeiramente?

Um dos fatores é exatamente esse (as decisões judiciais). Você não tem previsibilidade nas ações que vão se voltar contra você obrigando você a oferecer aquilo que a pessoa não comprou. No momento em que você é surpreendido com liminares de uma hora para outra, você tem que acudir, tem que obedecer e isso tem custo e desequilibra a relação entre o que entra e o que sai. 

E qual o mecanismo para reequilibrar as finanças dos planos de saúde?

Esse fator que eu citei da judicialização não é o único e a gente tem que fazer uma mea culpa, tem muitas empresas que se estabelecem e vendem o que não entregam. Essa é outra realidade, mas aí existem mecanismos no mercado, há uma agência reguladora que pode e deve atuar fechando as atividades desses planos porque maculam a imagem da medicina privada. Tem outro ponto que é muito importante: a medicina pública no país está falida há muitos anos e aqui não tem viés político porque independe de governo. Eu defendo uma idéia, e tenho um livro publicado sobre isso, que é associar a medicina pública e privada sobre forma de parceria. Mas ninguém se dispõe a fazer isso. Também há um problema no quesito gestão. Tem muita operadora mal gerida e mau gestão implica em insucesso nas relações entre cliente e a operadora. E um outro aspecto ainda e, felizmente a Unimed não padece desse ponto, é a qualificação profissional. Existem planos que oferecem médicos massificados sem questionar a formação e a habilitação dele como especialista, como médico adequadamente preparado para atendimento. As vezes esse padrão de profissional exacerba nos exames. Mais de 70% dos exames feitos no dia-dia o resultado é normal. Em 20% dos exames feitos o cliente não procura o laboratório para ir buscar porque já sarou. Significa que o atendimento não foi adequado, se tivesse sido não teria necessidade desses exames, já que o paciente sarou espontaneamente. Então é um leque de ação. Saúde é muito complexo. Qual a imagem popular que fica para medicina privada: como a medicina pública está falida, a míngua há muitos anos, há uma corrente de mídia, que incentiva a crítica exacerbada as ações da medicina privada como se ela fosse responsável, totalmente, por toda assistência médica dos brasileiros. E isso é pano de fundo para encobrir as mazelas da medicina pública. Para você ter idéia, hoje 52% do atendimento em saúde no Brasil é feito pela medicina privada. O estado só propicia recursos para 48%, o que demonstra claramente que o sistema de medicina pública está subfinanciado. Quando isso ocorre sobrecarrega a medicina privada. 

O que faz da Unimed o maior plano de saúde hoje no país?

As Unimeds são cooperativas, são empresas sem fins lucrativos, elas não são mercantis como outras empresas da medicina privada. Cooperativismo tem regras, filosofia, valores, missão. Quando isso é obedecido a risca funciona igual a um relógio. Isso é o primeiro ponto. Segundo ela (a Unimed) só admite médico que tenha o título de especialista ou residência médica oficial. Ela (a Unimed) trabalha com uma massa de profissional muito elevado. O terceiro ponto é que está espalhada por todo território nacional. Hoje 85% do território nacional é ocupado por Unimeds. O cooperativismo é quem sustenta o sistema Unimed.  No momento que as Unimeds atuam atingindo 21 milhões de clientes elas (as Unimeds) estão tirando a sobrecarga da rede pública, leia-se SUS, que não tem condição de suportar um fluxo de 21 milhões de pessoas hoje. É uma empresa com 48 anos de vida, tem uma marca que é a 21ª marca mais importante desse país. Mas, sobretudo, e principalmente pelo cooperativismo. Isso que faz o sucesso do sistema Unimed. No mundo inteiro não há nenhum sistema cooperativo que supere a Unimed. 

Mesmo sendo esse sistema cooperativo, os médicos têm muitas críticas e passa pela remuneração, o pagamento de consultas, de cirurgias. É uma cooperativa, mas é tida como vilã pelos próprios médicos?

As cooperativas Unimeds são empresas diferentes das mercantis, porque são empresas de economia social. O que ela arrecada mensalmente é para se autosustentar, o que redunda depois de todas as despesas pagas é dividido com os médicos. Se os médicos trabalham dentro de padrões claros, objetivos, racionais, eles vão ser bem remunerados. Se exacerbam ou cometem algum outro tipo de atividade, que destoe do recomendado, o dinheiro fica menor. E ficando menor pune a todos igualmente, o que é uma injustiça porque aqueles que trabalham adequadamente deveriam receber mais do que aqueles que não trabalham. 

Então o pró-rata igualitário para todos é uma injustiça?

Eu acho. O pró-rata deveria remunerar de maneira melhor, mais efetiva, aqueles que trabalham dentro das normas do cooperativismo. 

É justo um médico ganhar hoje R$ 40 por uma consulta médica?

Aí eu entro no quesito da gestão. Mas não vou só acusar a gestão. Falo também no quesito economia. Não posso imaginar uma consulta em Roraima, no Norte do Brasil, onde o PIB das cidades é mais baixo, ter condições de pagar uma consulta com valor muito mais justo do que esse a qual você se referiu. Já São Paulo, Rio de Janeiro, essa desculpa não cola. Não falo economizar, eu falo racionalizar. Quando não há racionalização, não há comunhão de princípios dentro do cooperativismo a punição é coletiva. Você fala em consulta a R$ 40. Mas tem Unimed que paga R$ 120. A Unimed de Dourados paga consulta a R$ 100. Tem Unimed que paga 14 folhas de produção a cada cooperado, paga as 12 folhas habituais da produção mensal, uma no aniversário e outra no final do ano. Tem Unimed que paga décimo terceiro. Agora o que o médico, muitas vezes não observa, é que o plano de saúde dele é subsidiado, registro dele não associações de classe muitas Unimeds pagam integralmente. Tem Unimeds que pagam congressos, cursos. Então isso o médico não coloca no computo.

É perigoso de incentivar o médico prescrever menos exame e ter uma remuneração melhor?
Eu sou contra, formalmente contra. A relação médico paciente não pode ser contaminada ou ser desvirtuada no quesito economia. O médico não pode fazer atendimento em cinco minutos. Medicina tem que ter racionalidade. O médico precisa ver o paciente por inteiro, mas isso não significa que tem que pedir menos ou mais exame.

É responsabilidade a mais ser indicado como uma das 100 pessoas mais influentes?
Sou uma pessoa muito avessa a publicidade. É do meu temperamento. Mas no cargo que ocupo é inevitável. Você é chamado para palestras, eventos. Isso tem repercussão. E isso termina lhe deixando meio midiático. Não sei se está havendo carência de nome. Mas eu não valorizo isso. Valorizo outras coisa

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