quinta-feira, 2 de julho de 2015

Carrasco do rival, Sérgio Alves vira mito no ABC com gol de bicicleta

Maior artilheiro alvinegro em clássicos contra o América-RN, ex-atacante enaltece carinho pelo ABC, lembra relação com ex-presidente e recorda gols inesquecíveis

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header ABC 1 - centenário (Foto: Thiago Assis)
ABC 100 anos - Sérgio Alves 1999 (Foto: Vidal News/Tribuna do Norte)Sérgio Alves em treinamento pelo ABC no ano de 1999 (Foto: Vidal News/Tribuna do Norte)
Ao ouvir nomes como Jorge Demolidor, Danilo Menezes, Alberi e Jorginho, a nação abecedista abre logo um sorriso. Foram muitos os craques que vestiram a camisa alvinegra e deram alegrias para a Frasqueira. Artilheiro nato, o atacante Sérgio Alves também é membro de honra do hall de ídolos do Mais Querido. Ao lembrarem do tempo em que Sérgio estava em campo, muitos torcedores costumam dizer que "o jogo já começava 1 a 0", tamanha era a certeza de que o atacante deixaria a sua marca nas partidas.
E se Sérgio Alves tem um espaço cativo
no coração dos alvinegros, o ABC também tem um lugar especial no coração do artilheiro. Segundo o ex-jogador, o ABC é um clube que ele passou a respeitar e ter o maior carinho por tudo o que viveu com a camisa alvinegra. Presente no Frasqueirão na decisão do Campeonato Potiguar deste ano e no confronto contra o Náutico, pela Série B, pôde sentir novamente de perto o carinho que a torcida tem por ele. Lisonjeado, o ex-atacante explica como essa admiração, que é mútua, começou e prosperou.
- Eu me sinto envaidecido pelo carinho e respeito que todos os torcedores do ABC têm por mim, e esse carinho e respeito eu creio que eu conquistei não só dentro de campo, e sim também fora de campo, com a minha imagem, com tudo o que eu representei fora de campo para os torcedores. E esse respeito eu também tenho para com eles, o que faz com que essa relação ainda permaneça da forma como está - disse.
Sérgio Alves - ABC - torcida (Foto: Canindé Soares)Sérgio Alves recebeu o carinho da torcida alvinegra na final do Potiguar 2015 (Foto: Canindé Soares)
Mas não foi fácil trazer Sérgio Alves para o ABC pela primeira vez, no ano de 1998. Segundo o ex-presidente alvinegro Judas Tadeu, a primeira tentativa de trazer o craque foi ainda durante a gestão do também ex-presidente Leonardo Arruda. Por ter feito uma grande temporada pelo Ceará, o atacante estava valorizado no mercado e um leilão foi feito em torno de sua contratação, inclusive com o maior rival América-RN no páreo. Depois de muita negociação, Sérgio decidiu ir jogar no Sion, da Suíça.
- Noventa dias depois, não deu certo no time lá da Suíça, e ele voltou para o Brasil. Quando ele voltou, a gente o contratou, quando eu já havia assumido a presidência, em 98. Ele é um jogador que veio para cá várias vezes e sempre deu muito resultado ao ABC - disse Judas.
De fato, Sérgio Alves sempre foi sinônimo de alegria para a torcida alvinegra. Decisivo dentro da área, o ex-atacante foi por quatro vezes o artilheiro do Campeonato Potiguar - nos anos de 98, 99, 2001 e 2005, dos quais apenas em 2001 o ABC não se sagrou campeão da competição. Ao falar do artilheiro, o ex-presidente Judas Tadeu o coloca entre os melhores que já vestiram a camisa alvinegra e exalta um traço de sua personalidade que atualmente é muito cobrado entre os boleiros: o profissionalismo.
ABC 100 anos - Judas Tadeu - Sérgio Alves (Foto: Leonardo Arruda)Judas Tadeu e Sérgio Alves são amigos desde os tempos de ABC (Foto: Leonardo Arruda)
- Sérgio é o cara mais profissional com quem eu trabalhei na história do ABC. Eu ainda coloco ele, dentro do nosso convívio, como o principal jogador. Mas como eu ainda alcancei seis meses de um jogador chamado Jorge Tavares (Jorginho), aí não tem jeito. Como Jorginho e Alberi, hoje em dia não se faz mais não. Depois desses dois, eu coloco Sérgio Alves. Sérgio talvez até seja mais carismático que os outros, e era diferenciado também - declarou.
Sérgio Alves, que atualmente mora em Fortaleza, se mostrou muito feliz ao saber das palavras de Judas, o qual ele considera um "grande amigo". 
- Eu não sabia disso, mas agradeço as palavras do presidente. Ele é uma pessoa pela qual eu tenho o maior respeito. Foi o meu presidente em todas as minhas passagens pelo ABC. Juntos tivemos muitas alegrias, conquistas, até porque as conquistas que eu tive com o clube foram na gestão dele. É um ser humano de coração bom, que eu tenho o maior respeito por tudo o que fez por mim - disse o craque.
SUPERSTIÇÃO E BRINCADEIRAS NA CONCENTRAÇÃO

Dentro de campo, vestindo a camisa alvinegra, Sérgio Alves gostava de marcar gols contra o rival América-RN e por isso ganhou a fama de carrasco. É também o maior artilheiro do Clássico Rei, com 14 gols marcados. O atacante era versátil, gostava de variar e utilizava essa característica para surpreender a defesa adversária e assim conseguir marcar seus gols. Porém, fora das quatro linhas, o artilheiro não gostava muito de mexer em time que estava ganhando. Pelo menos é isso que conta Judas Tadeu.
- Quando tinha ABC x América, geralmente a gente almoçava na melhor churrascaria da cidade. O treino era de tarde, e nós ficávamos lá até as 15h30, mais ou menos. E ele só gostava de sentar na mesma mesa. Por isso, quando ela estava ocupada, nós tínhamos que esperar vagar para enfim podermos comer e conversar. Naquela mesa a gente montava todo o esquema para ganhar do América... E ganhava (risos). Por isso ele não queria trocar de mesa, era superstição - conta o ex-presidente.
Sérgio Alves e torcedores do ABC (Foto: Augusto Gomes/GloboEsporte.com)Sérgio Alves é o maior artilheiro do Clássico Rei, com 14 gols marcados (Foto: Augusto Gomes/GloboEsporte.com)
Judas lembra que foi em uma dessas conversas que os dois combinaram a estratégia para vencer mais um Clássico Rei diante do arquirival América. O ex-presidente conta que na época os salários do plantel estavam atrasados, e que por isso mesmo ele teria que incentivar a equipe de alguma forma.
- Um dia, eu estava com os salários atrasados, e disse: 'Sérgio, eu vou tirar R$ 40 mil da folha para pagar o bicho, para antecipar'. Ele pediu que eu não fizesse, mas eu fiz, porque eu queria era ganhar o jogo. Eu disse a ele que iria com eles no ônibus e avisei que eles iriam aquecer no gramado naquele dia, pois eu queria fazer uma surpresa para os jogadores. Quando chegamos no vestiário, eu chamei o preparador físico e pedi para que ele fizesse o aquecimento do plantel no gramado (do Machadão). Isso porque eu queria pegar o dinheiro, os R$ 2 mil, e colocar na chuteira de cada jogador. Nesse dia o ABC precisava ganhar o América por 2 a 0. Quando eles voltaram do aquecimento, o dinheiro estava dentro da chuteira deles, e os caras endoidaram. Não deu outra, 2 a 0 para o ABC. E nós combinamos esse esquema na churrascaria - conta Judas.
Dentro de campo e nos treinamentos do Mais Querido, Sérgio Alves sempre foi um jogador muito compenetrado, sério e focado. Porém, durante as concentrações do clube alvinegro antes dos jogos, o artilheiro se transformava e mostrava seu lado brincalhão. Quem conta uma dessas histórias é o roupeiro Joca, que há 45 anos trabalha no ABC e que foi vítima de uma das pegadinhas de Sérgio Alves.
- Sérgio Alves era um cara muito brincalhão. A gente viajava, ficava nos hotéis, e ele ia na recepção pegar a chave extra do meu quarto sem eu saber e daí ele e o Ivan entravam quando eu não estava e se escondiam dentro do armário, e todo mundo sabia que eles estavam lá. Eu entrava no quarto e não percebia, e quando eu já estava à vontade, assistindo televisão, eles saíam de daquele armário e eu só faltava morrer de medo - revela.
DE BICICLETA E DE MULETA: OS GOLS INESQUECÍVEIS

Para um atacante, o gol é o ápice do jogo, e Sérgio Alves sabia balançar as redes como ninguém. Entretanto, um em especial não sai da cabeça dos abecedistas: o gol de bicicleta contra o América-RN, em 2001, considerado pelo craque um dos mais bonitos de toda a sua carreira. Com o Estádio Machadão como palco, a torcida do ABC se transformou em plateia e pôde ver a obra de arte protagonizada por Sérgio Alves nos minutos finais da partida.
- Lembro que estávamos perdendo o jogo, e se perdêssemos estaríamos fora da competição. Me lembro que o Marciano pegou a bola pelo lado direito e fez o cruzamento, já no final do jogo, acho que aos 44 minutos ou nos acréscimos do segundo tempo. O zagueiro do América pulou para cortar a trajetória da bola, que acabou passando por ele e eu tive a felicidade de dar a bicicleta. Esse é um dos gols mais bonitos de toda a minha carreira, e foi muito importante também, porque foi no clássico em que estávamos perdendo. Infelizmente foi o único ano que eu não fui campeão pelo ABC, mas, mesmo assim, pela importância do gol, ficou marcado na memória dos torcedores e na minha também - disse Sérgio (reveja abaixo o gol na reportagem da Inter TV Cabugi à época).

Na vida de um atleta de alto nível, as dores e lesões são inevitáveis, e com Sérgio Alves não foi diferente. Em sua última passagem pelo Mais Querido, no ano de 2005, o atacante foi contratado logo após ter feito uma artroscopia no joelho. Na ocasião, o jogador pediu 15 dias para se recuperar, e foi durante este período que um comentário mudou a história da final do estadual daquele ano.
- Depois de muito negociar, eu falei que ele poderia vir através de um contrato de risco, e ele me pediu duas semanas para se recuperar. E ele endoidou para jogar, fez tudo o que podia, fisioterapia, tratamento. A estreia dele foi em um ABC e América, só que, na véspera do jogo, alguém da imprensa viu ele no shopping mancando e escreveu que ele tava aleijado - conta Judas.
Como esperado, o comentário não foi bem recebido por Sérgio Alves. No segundo tempo do Clássico Rei, quando a partida estava empatada em 1 a 1, o atacante marcou o segundo gol alvinegro na partida e comemorou como se estivesse de muletas, em frente às cabines de imprensa do Machadão, em uma espécie de resposta às críticas feitas ao seu condicionamento físico.
- Foi uma resposta, não que eu tivesse que provar algo para alguém, por tudo o que fiz nas diversas vezes que eu estive no ABC. Naquele momento eu vi que não existia respeito de uma parte da imprensa com a minha pessoa, principalmente pelo o que eu já tinha feito pelo ABC, e como existiam problemas entre eles e o presidente Judas Tadeu, eles terminaram me ofendendo pela forma que eu fui contratado, em fase de recuperação, onde eu tinha feito uma artroscopia, e não me respeitaram. Eles poderiam esperar o campeonato começar para criticar da forma que fizeram, mas como queriam atingir o presidente, fizeram isso comigo para atingir ele por tabela, e por isso antes do jogo eu já me imaginava fazendo o gol e comemorando daquela forma, para mostrar que primeiro tem que respeitar, e principalmente se tratando de futebol, tem que esperar dentro de campo a resposta do atleta - explica o ex-atacante.
ABC 100 anos - ABC campeão de 2005 (Foto: Raul Pereira/Tribuna do Norte)Gol "muleta" fez parte da campanha do título do Campeonato Potiguar de 2005 (Foto: Raul Pereira/Tribuna do Norte)

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